30/12/2008
C. e a fábrica de solidão
Se não tivesses fechado a porta, quem sabe eu teria entrado e alterado o teu guião...
Não me pudeste dar o tempo. E a solidão agora é minha.
Jamais voltarei a ser D. white.
Estou in black, for you. Forever.
29/12/2008
O espírito da matéria
E digo isto sem querer melindrar a prata da casa, que faz o possível por recriar no Natal o espírito que lhe é próprio, conferindo-lhe a dimensão religiosa de origem. E vergo-me, grata, a todos que desenvolvem iniciativas que dignificam esta quadro, já que eu, honestamente, gosto de saboreá-las mas a sua confecção não me estimula.
Falava eu de frustração e materialismo.
Há dias, na secção infantil do C.I. fiquei com a sensação de que estava rodeada por um batalhão de formigas desesperadamente à procura de provisões para se garantirem no Inverno.
As listas dos pedidos ao “pai Natal” nas mãos e a expressão de frustração nos rostos, porque muitas coisas já estavam esgotadas.
Alguém comentou em desabafo “meu Deus, se eu não conseguir encontrá-los noutro lado [os presentes], isto para ele nem vai ser Natal!”. Tentei ver o rosto do comentário para ver se percebia qual seria a interpretação correcta a dar à coisa, mas a confusão era grande. Fiquei apenas a pensar nesta tendência crescente de reduzir o Natal a um amontoado de papéis e laçarotes.
Quando eu e os meus irmãos éramos miúdos e acreditávamos no Pai Natal, pedíamos coisas aparentemente impossíveis de se conseguirem, mas os meus pais davam voltas e mais voltas (eu até acho que eles faziam milagres...) e na maior parte das vezes encontravam o que queríamos. Digamos que a taxa de sucesso andava à volta dos 90%, o que para a época era um feito!
Como os nossos mealheiros eram magros, nós é que fazíamos os presentes que dávamos aos pais, aos irmãos, aos tios, à avó, ou juntávamo-nos e comprávamos “a meias” o que era possível... Uma coisa é certa, lembro-me que sempre démos, ainda que simbolicamente.
Mas agora uma coisa me parece cada vez mais evidente: o Natal é assim como o 1 de Junho, o dia Mundial das Crianças, só que com mais luzes e ainda mais presentes.
E até me poderia parecer natural que os presentes diminuíssem na proporção em que a idade aumenta e que as crianças sejam as grandes beneficiárias do Natal (até porque a celebração é mesmo essa, o nascimento de Jesus), se eu não estivesse preocupadamente a aperceber-me da falta de reciprocidade, de que cada vez menos as crianças estão a ser estimuladas a dar e a colaborar (contrariamente à vida de dádiva que foi preconizada por Jesus), mas apenas a pedir e a receber.
19/12/2008
Em dó maior
Só que antes, um deles toca piano. Quem aprende a tocar piano insensivelmente?
E as duas músicas que toca fazem-me chorar. As minhas lágrimas correm em silêncio para não perturbarem o aflorar das memórias que aqueles sons me trazem. Saudades de mim. Saudades dela.
E de novo eu estava ali, aos 12 anos, com o meu robe cor-de-rosa almofadado, sentada ao piano, as mãos a deslizarem pelo teclado. E a minha mãe ao meu lado, apontando-me com o bico do lápis as notas na partitura.
Saudade dela sim. Da forma como emocionava o meu coração juvenil quando tocava; como me inundava com a melancolia e o pesar do "Noturno" de Chopin. Gostava tanto de me deixar hipnotizar pelos seus dedos volteando, demorando-se sobre o teclado...
Não pensei que pudessem chegar-me pelas mãos de um assassino, ainda que ficcionado.
17/12/2008
Assim seja
Os resultados que daí advenham todos agradeceremos, mais cedo ou mais tarde. Nesta ou noutra vida.
07/12/2008
Esse grande filho da puta
Mas há outras pessoas, outras, que são verdadeiras almas de luz, anjos na terra, pequenas lufadas de bondade, de dádiva e amor, que parecem ter sido escolhidas para bodes expiatórios, para padecerem das dores do mundo em sacrifício dos demais.
E depois, quando a vida parece dar tréguas e trazer-lhes finalmente a acalmia, quando a lei do eterno retorno devia manifestar-se concedendo-lhes o direito a um novo respirar, atribuindo-lhes os legítimos créditos pelas suas vidas de sacrifício, eis que que ele chega em surdina e se impõe à revelia: esse grande filho da puta chamado cancro.
Sinto-me uma formiga querendo parecer ter dois metros, nesta tentativa de ser emocionalmente lógica e de fazer justiça conceptual. Quem sou eu para julgar a mecânica do universo, para avaliar o que é o mistério da vida, para dizer quem deve ir ou ficar? Porra nenhuma. Eu não sou porra nenhuma. Só sei que há pessoas que são a diferença; que fazem e farão muita falta. É só o que sei.
05/12/2008
Sem fim
27/11/2008
Entre Amigos
Painéis cerâmicos de design contemporâneo que nos despertam os sentidos, enriquecidos por nomes e textos que nos estimulam a imaginação.
26/11/2008
Paradoxo
25/11/2008
Simples
21/11/2008
Eutanásia e Cuidados Paliativos
Para alguns a eutanásia é a resposta correcta para o sofrimento insuportável das pessoas que, tendo doenças incuráveis e numa fase final da sua vida, entendem não querer continuar a viver.
A eutanásia inclui sempre o acto de provocar a morte numa pessoa gravemente doente, no fim da sua vida, e a pedido desta. Os seus defensores dizem que é uma resposta a reservar apenas para situações excepcionais.
A eutanásia não é a recusa de tratamentos desproporcionados, ditos fúteis, e a eutanásia não é a suspensão desse tratamentos. Com efeito, a recusa ou suspensão de tratamentos desproporcionados é uma boa prática médica, já recomendada e aprovada recentemente em código deontológico. A eutanásia também não é a administração de medicamentos opióides e sedativos, quando a intenção é aliviar o sofrimento. Por outro lado, é inútil associar a eutanásia a vagos conceitos como "morte assistida", "morte digna", "boa morte serena", pois isso só contribui para confundir a opinião pública, com expressões que são tópicos sentimentais e susceptíveis de aludir a muitas outras actuações, de âmbito e natureza diferente da da eutanásia. A realidade do sofrimento em fim de vida preocupa e assusta, e isso é natural e compreensível. Todos queremos garantir para o final dos nossos dias a tranquilidade de um tempo sem dores, sem mal-estar e encerrar serenamente a nossa vida, em paz connosco, com o mundo e com os que nos são queridos.
Os que trabalhamos com doentes em fim de vida e seus familiares sabemos que a larga maioria nos diz: "Eu não tenho medo de morrer, tenho é medo de sofrer!" As pessoas querem habitualmente viver, viver com dignidade e só um sofrimento insuportável as fará desejar morrer, e mais, as fará desejar que as matem.
Os portugueses precisam saber que têm hoje uma resposta técnica e humanizada da medicina para essas situações de sofrimento e que se chama "cuidados paliativos". Estes cuidados de saúde, prestados por equipas de profissionais e voluntários devidamente especializados, promovem a qualidade de vida e a dignidade, respeitam a vida (não a encurtam) mas também respeitam a inevitabilidade da morte (e por isso não prolongam artificialmente a vida).
Isto é: no mundo actual e moderno, a medicina tem meios para mitigar o sofrimento humano, não o deixando tornar-se intolerável e sem manter as pessoas vivas a qualquer custo. Esta é uma resposta não para casos excepcionais, mas "a" primeira resposta nos cuidados de saúde para os que têm doenças graves e incuráveis, que pode e deve ser prestada muito antes dos últimos dias de vida. Se não houver acesso e, sobretudo, se não houver informação sobre cuidados paliativos, a escolha sobre o que queremos para o fim dos nossos dias será feita de forma imperfeita e deturpada, sem estar na posse dos mais recentes dados sobre a matéria. Não se trata de contrapor a "alternativa cuidados paliativos" à "alternativa eutanásia": qualquer que seja a nossa posição sobre a eutanásia, todos devemos ter acesso aos cuidados paliativos. Demos aos cuidados paliativos, enquanto direito humano, o lugar universal que lhes está reservado.
Um recente estudo pioneiro, de representatividade nacional, promovido pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (ver http://www.apcp.com.pt) demonstra que 2/3 dos portugueses desconhece a existência e as práticas dos cuidados paliativos. Curiosamente, nesse mesmo estudo, dos indivíduos inquiridos - que representavam a realidade nacional -, 50% dos que se assumiam a favor da eutanásia diziam que mudariam essa posição se tivessem a garantia de que a medicina não os deixaria em sofrimento intolerável. Estes factos revelam um nível de desinformação preocupante e justificam, por si só, mais e melhor informação para os portugueses sobre estas matérias.
Só pode haver debate sobre um tema se houver conhecimento alargado sobre ele. Importa, pois, colocar toda a informação disponível ao serviço do público, com rigor e verdade, evitando abordagens sensacionalistas. A importância do tema nas nossas vidas, o respeito pelos mais vulneráveis e, sobretudo, o respeito pela opinião pública e o dever de a informar justificam-no.
Oxalá possamos assistir a essa mudança.
In Público - Cartas ao Director - 09/11/2008
18/11/2008
H.M.
Estiveste quase para não vir. Não sabias se conseguirias fazer um bom trabalho, porque te iria exigir uma imensa entrega. Tu estavas em estado de choque e com uma enorme dificuldade de lidar com as tuas emoções.
Na semana anterior tinham-te diagnosticado uma neoplasia na perna. Como médico sabias que o veredicto era a amputação. Quando regressasses de Lisboa terias que enfrentar essa perda.
Sentiste-te frágil, estavas com medo. Desta vez era a tua vida.
Dificilmente alguém poderá esquecer como estiveste em dádiva em todas as horas. Como as tuas palavras eram veiculadas pelo amor à tua missão e àqueles de quem cuidavas. Tocaste-nos de forma plena, profunda, partilhando as tuas vivências, as histórias de vida de tantas pessoas em fase terminal que ajudaste a partir e a quem proporcionaste viver em dignidade os últimos momentos. Foi a tua serenidade, a cadência afectuosa da tua voz, a grandeza espiritual que nos foste revelando ao longo dos dias, que enchiam a sala de um silêncio de escuta que jamais testemunhei.
Muitas vezes ao olhar para ti senti a presença de uma vontade numinosa levando-me para outro estado de consciência, o único estado onde a força Curadora se manifesta e actua. O lugar do nosso encontro.
Em cada momento de comunhão bebi as tuas palavras e apreendi a grandiosidade do amor, desse amor incondicional que escuta sem julgamento, que se entrega por inteiro, que tudo comunga, tudo partilha, tudo aceita, tudo perdoa, tudo cura.
Reaprendi que o grande momento de reconciliação com a vida é o de um Ser face à iminência da morte. A morte do outro, a nossa morte. A derradeira oportunidade de transformação.
Disseste que as palavras curam, que é curando o outro que nos curamos também a nós. Que a cura é um acto de amor e que o amor é um milagre. Que em todo e qualquer momento o que mais queremos, a única coisa que realmente queremos, é sermos amados.
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Liguei-te com o coração nas mãos.
29/10/2008
Esta então!
Continuamos com esta cisma de achar que o que é preciso é que as taxas de insucesso baixem para sermos verdadeiramente europeus... para estarmos, se calhar, ao nível de uma Finlândia, por exemplo.
Das duas uma, ou ainda há algo por revelar que sustente de forma inovadora e responsável o risco desta legislação, ou o preço que a sociedade pagará por ela será incalculável.
E esta, hã?!
22/10/2008
C.
21/10/2008
SOS Lisbon Players
As most of you now know the Lisbon Players, which has been in its present building since 1947, is going through uncertain times as the future of Estrela Hall is threatened. We are vigorously fighting plans that may mean the loss of our theatre after more than 60 years of continuous activity. This legal fight is costing us money.
There will be two FUND-RAISING PARTIES on Friday and Saturday, 24th and 25th October to which an open invitation is extended to all our friends and supporters. There will be things for sale, food and drink and, of course, some great entertainment!
Although the evening is free, to make sure of a seat for the show we ask you to make a telephone reservation at the Box Office - 21 396 1946. The doors will open at 8pm/20h and the show will start at 9.30pm/21.30h.
Come along with a full heart and full purse to help ensure the future of Lisbon’s English language theatre!
20/10/2008
Ronrom
13/10/2008
A Passagem de Pierre Weil
11/10/2008
Dia Mundial dos Cuidados Paliativos
30/09/2008
Sem resposta
18/09/2008
Nem sempre onde há luz está o ouro
16/09/2008
Dia do pai
04/09/2008
Linha feita, avance-se para bingo
29/08/2008
Não quero ficar
30/07/2008
Virar a página
18/07/2008
A sobrevivência dos Lisbon Players
We continue our vigorous opposition to plans than would mean the loss of our theatre. We depend on you, our audience and friends, to support us. We believe that the Lisbon Players continues to be a vital and irreplaceable part of the Lisbon cultural scene. Keep in touch with latest developments and add your name to our online petition.
http://www.gopetition.com/petitions/save-the-lisbon-players.html
Talvez sem juízo...
Quando queremos muito encontrá-lo, sim. Mas depois quando ele se instala e nos absorve por inteiro, vem o medo da entrega que ele exige e os nossos mecanismos de defesa disparam logo: “Ai, se calhar é paixão ou dependência de afectos, e não amor...”, também “pode ser só uma necessidade do ego e não um sentimento puro de um coração crístico...”, ou ainda “e se em vez de um encontro de almas gémeas for o de almas carentes e necessitadas à procura de um elixir terapêutico?”.
Mas o amor pode ser/ter tudo isto, ou não pode?
Pois ... a dúvida é necessariamente fruto da actividade racional e da insegurança, mas a partir do momento em que ela se instala o amor está “feito”... porque é questionado, amputado, cortado às tirinhas!
Gostamos de acreditar naquele padrão celestial que diz que o amor que é amor nunca se questiona: ele É, simplesmente, e é benigno, pacífico, transformador.
Muito bem. Mas tal como nós, gente dividida entre o celestial e o terreno, o amor também tem lá o seu lado humano com laivos de imperfeição e de inquietude. E na verdade, nada do que é transformador é muito pacífico...
Fomos sempre levados a considerar que o amor, per si, é sério, responsável, adulto, maduro e sabe sempre qual é o melhor caminho.
Mas... e se ele não tiver juízo?!
15/07/2008
O lugar da vírgula
"Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de rastos à sua procura."
08/07/2008
A história das coisas
http://video.google.com/videoplay?docid=-3412294239230716755&hl=en
07/07/2008
Opção difícil...
04/07/2008
A dança da vida
Cada dança tem seu passo;
Fraco, allegro, forte, largo,
Tudo gira ao seu compasso.
Pratos, palmas, pés, djambés,
Sons volteiam pelo espaço,
Soam ritmos livres, soltos,
Suam corpos sem cansaço.
Polka, rumba, cha-cha-cha,
Cada dança tem seu tempo,
Um dois três, avança, pára,
Há quem gire a contratempo.
Gaita, risos, guizos, chistes,
Rodopio ou ritmo lento,
Trás, recua, frente, segue,
Tombam corpos sem lamento.
Gentes, vozes, gestos, gritos,
Sonhos, vontades, desejos,
Rotinas, loucuras, mitos,
Abraços, mãos dadas, beijos.
Tantas voltas, tantos passos,
Tanto esforço em cada avanço,
Atropelos, retrocessos,
Vitórias, perdas, balanço...
É a dança da vida, a vida na dança,
A dança vivida cheia de pujança!
É a vida na dança, a dança da vida,
Cheia de pujança a dança vivida!
26/06/2008
A caixa de Joel
Sei que houve andorinhas que contrariamente à sua natureza, começaram a voar sem formação. Fazia muito calor. Tudo estava em mudança e os bichos desnortearam, coitados. Parece que os seus sensores deixaram de estar em sintonia com as estações. Os seus vôos tornaram-se rasteiros e circulares. Os ninhos, tantas vezes construídos nos alpendres, desapareceram. Alguns foram vistos próximos de lixeiras. O ar era denso demais e as andorinhas já não conseguiam voar alto, nem longe, para ir buscar raminhos e ervas.Também já quase não os havia, essa é que era a verdade.
Tinha havido um senhor que disse que infelizmente isto ía acontecer. Também falou de outras espécies que íam acabar por desaparecer. Até de nós, pessoas. Que um dia não teríamos sombra para nos abrigarmos, nem água para nos tirar a sede, que os rios íam secar, as planícies desertificar, o gelo derreter... E mais uma série de coisas pouco animadoras...
Uns levaram isso a sério, outros, menos. Os que tiveram medo que isso pudesse ser verdade, disseram "não acreditamos em bruxas, mas que as há, há!", e foram agindo para evitar toda aquela desgraça. Os outros, que eram mesmo muitos, não se preocupavam com o assunto e às vezes até faziam coisas graves sem pensar. Se calhar achavam que já cá não haviam de estar, ou que quem cá estivesse que se preocupasse, que não era por causa deles que o mal haveria de acontecer. Não sei bem, não faço ideia o que pensavam.
Sei que havia pessoas que não separavam o lixo, outras que deixavam carregadores ligados quando não estavam a carregar, e que também deixavam a televisão com uma luzinha sem a desligarem no botão. Também sei de muita gente que tomava banho e deixava a água correr, correr..., mesmo quando não precisavam. Havia mais negligências, eu sei, muitas mais! O avô Joel deixou-me tudo escrito. Mas se estes pequenos actos eram tão complicados de evitar, posso imaginar como deve ter sido difícil lidar com os grandes!
Mas a certa altura compreendeu-se que era mesmo preciso ajudar e pensar nas coisas a sério e isso foi o suficiente para evitar muitas desgraças!
O meu avô deixou-me uma caixa com o nome "Caixa de Joel", onde pôs fotografias, recortes e mais informação sobre animais e plantas que não foi mesmo possível salvar e que deixaram de existir. Mas o que eu queria mesmo era tê-los conhecido de verdade! Ele disse-me que há muito tempo, também houve um senhor que soube que ía acontecer uma catástrofe parecida e guardou muitos animais numa Arca, para que os netos pudessem vir a conhecê-los.
Mas o meu avô não conseguiu...
20/06/2008
O dia em que a borboleta voou
Guardo desse momento uma lembrança de alívio, de justiça, de bonomia. Nunca me revoltei com a sua morte. Antes pelo contrário, considerei-a uma benção. O que me revoltou foi o seu sofrimento, a forma como foi descurada nos últimos dias (coincidentes com um fim-de-semana), sem ter sido monitorizada 24 sobre 24 horas, como seria de esperar. Era doente cardíaca e apesar de estar a ser minada por metástases, o que a matou foi um enfarte.
Digo, com a comoção e a apreensão do que sei que motiva um ser nos seus momentos terminais, que a morte pelo coração foi o seu derradeiro acto de Amor. Foi esse acto de amor que lhe permitiu ser transferida de uma enfermaria tumultuosa para o S.O., onde a sua morte não foi espectáculo, nem prato cheio para voyeuristas, mas antes pelo contrário, onde pôde partir com a dignidade, a privacidade e a sacralidade que merecia e que nos era a todos tão cara.
Há três noites sonhei com ela e percebi que este ciclo terminou. Alcançou o inatingível.
Para sempre, a eternidade.
16/06/2008
O mestre e o escorpião
Alguém que estava a observar a cena aproximou-se do mestre e disse: "Desculpe-me mas o senhor é teimoso! Não vê que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?".
O mestre respondeu: "Ele age de acordo com a sua natureza. A natureza do escorpião é picar e isso não vai mudar em nada a minha natureza, que é ajudar".
Então, com a ajuda de uma folha o mestre tirou o escorpião da água e salvou-lhe a vida.
Não mudes a tua natureza se alguém te magoar; apenas toma precauções.
Autor desconhecido
09/06/2008
Limpeza étnica
Eles começaram por perseguir os comunistas
e eu não protestei, porque não era comunista.
Depois vieram buscar os judeus
e eu não protestei, porque não era judeu.
Depois ainda, vieram buscar os sindicalistas
e eu não protestei, porque não era sindicalista.
A seguir vieram buscar os homossexuais
e eu não protestei, porque não era homossexual.
Aí então vieram buscar os ciganos
e eu não protestei, porque não era cigano.
De seguida vieram buscar os imigrantes,
e eu não protestei, porque não era imigrante.
No final vieram buscar-me,
E já não havia ninguém para protestar.
Martin Niemöller
06/06/2008
Luz com BLeza
05/06/2008
A minha paixão
02/06/2008
Acreditar é preciso
Outubro de 2007. Após meses de insuportáveis dores de cabeça, tonturas e outros sintomas, SVS vai (arrastado por um amigo) ao médico e são-lhe diagnisticados cancros em estado muito avançado no cérebro e nos pulmões. Veredicto clínico: três semanas de vida e, se a radioterapia intensa a que se iria submeter de imediato resultasse em pleno, seis meses, no máximo.
Na impossibilidade de comunicar com os milhares de pessoas com quem se relaciona, SVS criou um blogue onde diariamente passou a dar conhecimento sobre o ponto de situação da sua doença.
A forma incrivelmente positiva com que se empenhou na luta pela sua cura e a forma como a foi descrevendo no blogue salvadorvazdasilva.blogspot.com, fez com que este se tornasse rapidamente num enorme fenómeno de popularidade, extravasando em muito o alargado universo dos seus familiares e amigos.
Passados seis meses, e perante o espanto dos médicos que para tal não encontram explicações científicas, SVS escreveu o último post no seu blogue, no qual confirmou a erradicação total dos vários tumores cerebrais e pulmonares que lhe ameaçaram decisivamente a vida.
Para trás ficaram seis meses de um diário feito na base de cerca de 200 posts e milhares de comentários, transmitidos num original blogue que passou a ser espontâneamente conhecido por "Catedral". Um blogue - agora um livro - que é um diário de uma fantástica luta, transformada numa verdadeira lição de esperança e fé para todos os que se encontram perante as maiores adversidades da vida.
O valor de direitos de autor, acrescidos de uma parte da receita de vendas da Prime Books, reverterão integralmente a favor do IPO. Prefácio da cantora Mariza.
30/05/2008
Demito-me
Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de oito anos, no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo, e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo.
Quero de volta uma vida simples e sem complicações. Estou cansada de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, notícias deprimentes, contas a pagar, intrigas, doenças, e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar maneiras de fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigada a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que Deus está no céu e que por isso tudo está direitinho neste mundo.
Quero ir ao McDonalds ou à pizzaria da esquina e achar que é melhor do que um restaurante cinco estrelas.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou fazer navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero atirar pedrinhas à água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando amadurece a primeira nespereira ou a primeira ameixoeira, quando a laranjeira fica carregadinha de fruta.
Quero poder passar as tardes de Verão à sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e gasosas são as melhores coisas da vida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de berlinde ou uma futebolada...
Eu quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, "As Pombinhas da Catrina" e a "Avé Maria" e isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia...
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem preocupar-nos e aborrecer-nos.
Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, das carícias, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos-no-ar e na areia.
E o que mais quero é estar convencida de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro!
Por isso, tomem aqui as chaves do carro, a lista do supermercado, as receitas do médico, o livro de cheques, os cartões de crédito, o contra-cheque, os crachás de identificação, as contas a pagar, a declaração de impostos, a declaração de bens, as passwords do meu computador e das contas no banco, e resolvam as coisas como bem quiserem.
A partir de hoje isto é com vocês, porque eu DEMITO-ME da vida de adulto.
Vou voltar a ser feliz, a ter sonhos de criança, a ver o mundo com os olhos inocentes de quem acredita no Pai Natal e na fada dos dentes... Viver um sonho...
Autor desconhecido
28/05/2008
26/05/2008
O gosto de te ver feliz
Descubra as diferenças
Quando o euro é mais forte do que o dólar, o preço dos combustíveis aumenta.
21/05/2008
20/05/2008
Gambosinos
Ontem, em conversa, lá surgiram eles outra vez...
Por isso partilho aqui o pouco que sei. Gambosino é o nome popular que se dá em Portugal a um peixe, mais exactamente o Gambusia Affinis Holbrooki, que é considerada uma espécie invasora. As imagens são do site www.aquariofilia.net.
Também no Departamento de Zoologia e Antropologia da Faculdade de Ciências há um aquário com Gambosinos. Ver para crer...
13/05/2008
Normose
Colocamos em ressonância esta parte do nosso corpo com as relações que podemos ter, não somente com nossa família e com os sonhos que a nossa família tem para connosco, mas também com os sonhos e as imagens que a sociedade pode ter para connosco. Às vezes estas imagens são coleiras de ferro no nosso pescoço. Estamos como que aprisionados às imagens que os outros têm de nós mesmos. Isso nos impede de respirar livremente e de deixar nosso coração bater tranquilamente. Isto gera uma tensão, uma crispação, que pode ser a origem de doenças graves (...).
Às vezes sentimo-nos sufocar. Não correspondemos à imagem que os outros têm de nós, seja a nossa família, seja a sociedade. Se não quisermos adoecer (...) temos que ter a coragem de sair destas representações (...). Ao lado da psicose, ao lado na neurose, temos a "normose". Para alguns de nós, querer ser normal a qualquer preço, querer ser como todo o mundo, pode ser fonte de doenças. Porque estamos entravados no nosso desejo mais íntimo.
09/05/2008
08/05/2008
Mobbing
Num livro de auto-ajuda para vítimas, agora publicado, o catedrático defende que o “mobbing” afecta um em cada seis trabalhadores e que 70% destes não têm noção de estar a ser alvo de agressões no local de trabalho.
Em Espanha, segundo o autor, esta “epidemia organizacional do século XXI” atinge 15% da população activa, num total de 2,3 milhões de pessoas.
E em Portugal? "
Jornal de Negócios - Agosto, 20, 2003
Frequentemente nem nós nos apercebemos de que estamos a ser assediados moralmente. Só quando começamos a ter sintomas depressivos ou fóbicos é que tomamos consciência de que algo de errado se passa. Excluindo as situações mais óbvias, em que a empresa vai retirando trabalho ao trabalhador forçando a que o mesmo se despeça, ou casos em que os superiores hierárquicos agridem verbalmente os funcionários, ou depreciam constantemente o seu trabalho, destruindo por completo a sua auto-estima, existem outras formas de pressão e desmoralização mais subtis (no caso das mulheres, primam pela descriminação), que poderão não ser identificados por terceiros e que só o próprio lesado poderá perceber através de uma avaliação das suas emoções face ao "agressor". Entre outros, sentimentos profundos de frustração, marginalização, fobia e baixa auto-estima, que não se manifestavam anteriormente e que não advenham de questões do foro pessoal/familiar, poderão eventualmente ser indicadores de "mobbing".
Se é verdade que todos precisamos de trabalho para garantir a nossa subsistência, também é verdade que as instituições precisam de nós para se desenvolverem e gerarem proveitos. É desta necessidade recíproca que surge o contrato de trabalho, conferindo direitos e obrigações a ambas as partes.
É saudável considerarmos este aspecto de "troca" nas nossas vidas profissionais, para que não nos sintamos escravos de uma necessidade. Ao olharmos para o nosso trabalho sob um ponto de vista esclavagista, estamos imediatamente a desvalorizarmo-nos. Inconscientemente assumimos e passamos essa imagem, permitindo a ocorrência de situações de desrespeito, humilhação e abuso de autoridade. Ao contrário, se mantivermos uma postura respeitosa para com nós próprios, dignificando o nosso papel, seremos tratados de forma correspondente.
Naturalmente, face às dificuldades no mercado de trabalho, o receio de despedimento é constante, o que nos torna muito vulneráveis. Esta circunstância conduz-nos à passividade e ao receio do confronto, levando-nos a calar uma série de situações desconfortáveis, conferindo ao "agressor" um poder que na realidade ele não tem.
Temos, no entanto, que estar alertas para o facto de esse "calar" poder trazer-nos, com o passar do tempo, distúrbios emocionais sérios. O que não manifestamos, somatizamos.
O ideal seria todos nós lidarmos serenamente com os que nos afrontam. No momento certo, intervir com sinceridade e educação, é uma arma desarmante.
No entanto, nem todos temos a mesma forma de gerir os conflitos. Alguns optam pela via acusatória e conflituosa, de todo infrutífera.
Devemos ter sempre o cuidado de manifestar o que sentimos de uma forma assertiva, ao invés de optar por uma espiral acusatória e bélica.
Por outro lado, do ponto de vista humano, temos que ter a compreensão para perceber que muitas vezes o "agressor" também é vítima. Vítima de si mesmo, ou de situações pessoais e familiares complicadas. As suas atitudes agressivas são frequente e simultaneamente defensivas. Agride para não ser agredido, para se sentir mais forte, para esconder a sua fragilidade, ou simplesmente porque também está a ser pressionado. Alguns, infelizmente, são mesmo vítimas de psicoses graves.
Urge aprendermos a distanciarmo-nos emocionalmente dessas pessoas, para que não sucumbamos às suas manipulações. Só o distanciamento e a compreensão poderão manter-nos saudáveis e, quem sabe, até conseguirmos ajudá-las.
Lembremo-nos que, independentemente das diferenças, todos somos igualmente frágeis, todos temos inseguranças e receios, e todos nós precisamos de atenção e conforto emocional.
Seixo na água
06/05/2008
Tristeza...
04/05/2008
Ponto final
No contraste da noite deixaram-se encantar por uma pequena mesa, que envolta pela bruma alaranjada das velas, parecendo tocar o rio, esperava para acolhê-los.
E ali ficaram na penumbra daquela luz ténue, avistando a cidade linda do outro lado como numa tela de cinema.
Voltaram tranquilos, sorridentes, enleados na sua própria ternura, ao cais, ao cacilheiro, à travessia. Novamente o olhar perdido na vidraça. E no final, por uns segundos, aqueles breves segundos que leva o tempo do retorno, todos saíram. E eles ficaram ali, abraçados, esquecidos nos seus pensamentos de água.