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30/05/2008

Demito-me

Venho por este meio apresentar oficialmente o meu pedido de demissão da categoria dos adultos.
Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de oito anos, no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo, e que todas as pessoas são honestas e boas.
Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim e quero ficar encantada com as pequenas maravilhas deste mundo.
Quero de volta uma vida simples e sem complicações. Estou cansada de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, notícias deprimentes, contas a pagar, intrigas, doenças, e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar maneiras de fazer o dinheiro chegar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigada a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida.
Quero ter a certeza de que Deus está no céu e que por isso tudo está direitinho neste mundo.
Quero ir ao McDonalds ou à pizzaria da esquina e achar que é melhor do que um restaurante cinco estrelas.
Quero viajar ao redor do mundo no barquinho de papel que vou fazer navegar numa poça deixada pela chuva.

Quero atirar pedrinhas à água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando amadurece a primeira nespereira ou a primeira ameixoeira, quando a laranjeira fica carregadinha de fruta.
Quero poder passar as tardes de Verão à sombra de uma árvore, construindo castelos no ar e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e gasosas são as melhores coisas da vida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam um jogo de berlinde ou uma futebolada...
Eu quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, "As Pombinhas da Catrina" e a "Avé Maria" e isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia...
Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem preocupar-nos e aborrecer-nos.
Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, das carícias, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos-no-ar e na areia.

E o que mais quero é estar convencida de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro!
Por isso, tomem aqui as chaves do carro, a lista do supermercado, as receitas do médico, o livro de cheques, os cartões de crédito, o contra-cheque, os crachás de identificação, as contas a pagar, a declaração de impostos, a declaração de bens, as passwords do meu computador e das contas no banco, e resolvam as coisas como bem quiserem.
A partir de hoje isto é com vocês, porque eu DEMITO-ME da vida de adulto.
Vou voltar a ser feliz, a ter sonhos de criança, a ver o mundo com os olhos inocentes de quem acredita no Pai Natal e na fada dos dentes... Viver um sonho...

Autor desconhecido

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