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20/06/2009

O quarto vôo da borboleta

Faz hoje 4 anos. Como ela sempre quis, vimo-la partir vestidos de branco, ouvindo música, em festa. A vida para ela foi sempre uma festa, mesmo que acabasse em bebedeira, pancadaria ou solidão, era festa.


As festas às vezes são assim. Vamos para ela enérgicos, cheios de expectativas; voltamos cansados, arrastando as pernas.

Mas isso nunca lhe roubou a alegria, a fúria de viver, a determinação, a concretização dos sonhos.

O que mais me custou depois da sua morte, ao arrumar os seus papéis, agendas, blocos, cadernos, folhas soltas, foi encontrar em todos eles o esqueleto de "projectos a realizar". Livros, cursos, conferências, viagens, espectáculos... A sua mente imaginativa, criativa, abstracta, era ilimitada; a sua perseverança e dinamismo, imparáveis. Acima de tudo, para ela tudo era possível e concretizável. Nunca lhe conheci impeditivos, nem medos de ir em frente. Antes pelo contrário, o único medo que lhe conheci foi o da imobilização. Dizia, quase premonitoriamente, "se algum dia ficar imóvel, incapaz de fazer coisas, prefiro morrer".
E o universo cumpriu a sua vontade.

05/06/2009

O drama feminino no mais natural acto fisiológico


Porque é que as mulheres demoram tanto tempo quando vão à casa de banho?

Quando eras pequenina, a tua mamã levava-te à casa de banho, ensinava-te a limpar o tampo da sanita com papel higiénico e depois punha cuidadosamente tiras de papel no perímetro da sanita.

Finalmente instruía-te: "Nunca te sentes numa casa de banho pública!". Depois ensinava-te a "posição", que consiste em balançar-te sobre a sanita numa posição de sentares-te sem que o teu corpo tenha contacto com o tampo.

A "posição" é uma das primeiras lições de vida de uma menina, importante e necessária, que a acompanha para o resto da vida. Mas ainda hoje, nos nossos anos de maioridade, a "posição" é dolorosamente difícil de manter, sobretudo quando a tua bexiga está quase a rebentar.

Quando tens que ir a uma casa de banho pública, encontras uma fila enorme de mulheres... Parece até que o Brad Pitt está lá dentro. Por isso resignas-te a esperar, sorrindo amavelmente para as outras mulheres que também cruzam as pernas e os braços, discretamente, na posição oficial de "estou aqui estou a mijar-me!".

Finalmente é a tua vez! E chega a típica mãe com a menina que não aguenta mais: "a minha filhota já não aguenta mais, desculpe, vou passar à frente!". Então espreitas por baixo de cada cubículo para ver se algum não tem pernas... Estão todos ocupados!

Finalmente abre-se um e lanças-te lá para dentro, quase derrubando a pessoa que ainda está a sair.

Entras e vês que a fechadura está estragada (está sempre!); não importa… Penduras a mala no gancho que há na porta… QUAAAAAL? Nunca há gancho!!!
Inspeccionas a zona, o chão está cheio de líquidos indefinidos e fétidos e não te atreves a pousá-la lá, por isso penduras a mala no pescoço enquanto vês como balança debaixo de ti, sem contar que a alça te desarticula o pescoço, porque a mala está cheia de coisinhas que foste metendo lá para dentro durante meses e a maioria das quais não usas, mas que tens no caso de…

Mas, voltando à porta… como não tinha fechadura, a única opção é segurá-la com uma mão, enquanto com a outra baixas as calças num instante e pões-te "na posição"…

AAAAHHHHHH… finalmente, que alívio… mas é aí que as tuas coxas começam a tremer… porque nisto tudo já estás suspensa no ar há dois minutos, com as pernas flexionadas, as cuecas a cortarem-te a circulação das coxas, um braço estendido a fazer força na porta e uma mala de 5 quilos a cortar-te o pescoço!

Gostarias de te sentar, mas não tiveste tempo para limpar a sanita nem a tapaste com papel. Racionalmente achas que não vai acontecer nada, mas a voz da tua mãe faz eco na tua cabeça "nunca te sentes numa sanita pública", e então ficas na "posição de aguiazinha", com as pernas a tremer… e por uma falha de cálculo da distância, um finííííssimo fio do jacto salpica-te e molha-te até às meias!!

Com sorte não molhas os sapatos… É que adoptar "a posição" requer uma grande concentração e perícia!

Para distanciar a tua mente dessa desgraça, procuras o rolo de papel higiénico... mas não há! Invariavelmente, o suporte está vazio!!!!

Então rezas aos céus para que, entre os 5 quilos de bugigangas que tens na mala pendurada ao pescoço, haja um miserável lenço de papel… Mas para procurar na tua mala tens de soltar a porta!? Duvidas um momento, mas não tens outro remédio. E quando soltas a porta, alguém a empurra, dá-te uma traulitada na cabeça que te deixa meio desorientada, mas rapidamente tens que travá-la com um movimento rápido e brusco enquanto gritas OCUPAAAAAADOOOOOOOOO!!

E assim toda a gente que está à espera ouve a tua mensagem. Ufa! Já podes soltar a porta sem medo, ninguém vai tentar abri-la de novo (nisso as mulheres têm muito respeito umas pelas outras).

Encontras o lenço de papel! Está todo enrugado, tipo um rolinho, mas não importa, fazes tudo para esticá-lo. Finalmente consegues e limpas-te. Mas o lenço está tão velho e usado que já pouco absorve, e molhas a mão toda! Valeu-te de muito o esforço de desenrugar o maldito lenço só com uma mão!

Ouves a voz de outra mulher nas mesmas circunstâncias que tu, "alguém tem um pedacinho de papel a mais?".

Sem contar com o galo que ganhaste com a pancada da porta, o linchamento da alça da mala, o suor que te corre pela testa, a mão a escorrer, a lembrança da tua mãe que estaria envergonhadíssima se te visse assim porque ela nunca tocou numa sanita pública ("Francamente, tu não sabes que doenças podes apanhar aqui, até podes ficar grávida". Lembram-se???).
Estás exausta! Quando páras já não sentes as pernas, arranjas-te rapidíssimo e puxas o autoclismo a fazer malabarismos com um pé, muito importante!

Depois lá vais para o lavatório. Está tudo cheio de água (ou será xixi? ocorre-te isto porque te lembras do lenço de papel…), então não podes soltar a mala nem durante um segundo. Pendura-la no teu ombro. Não sabes como é que funciona a torneira com os sensores automáticos, então tentas até te sair um jactozito de água fresca e com sorte consegues sabão. Lavas-te numa posição do corcunda de "Notre Dame" para a mala não resvalar e ficar debaixo da água.

Nem sequer usas o secador, é uma porcaria inútil, pelo que no fim secas as mãos nas tuas calças – porque não vais gastar mais um lenço de papel para isso, se é que o tens... E sais.

Nesse momento vês o teu namorado, ou marido, que entrou e saiu da casa de banho dos homens e ainda teve tempo para ler um livro de Jorge Luís Borges enquanto te esperava.

"Mas por que é que demoraste tanto?" - pergunta-te o idiota.

"Havia uma fila enorme" - limitas-te a dizer. Para quê mais? Ele nunca entenderia...

Moral da história: A razão pela qual as mulheres vão em grupo à casa de banho é por solidariedade. Uma segura-te na mala e no casaco, a outra na porta e a outra passa-te o lenço de papel por debaixo da porta. Assim é muito mais rápido e só tens que te concentrar em manter "a posição" e a tua dignidade.

(Recebida por e-mail/autora desconhecida)