Páginas

13/07/2009

Dias felizes

Decidiram ir morar juntos porque era-lhes insuportável continuar a acordar todos os dias longe um do outro.

Queriam despertar e testemunhar a luz matinal em simultâneo e com o mesmo olhar. Achavam que q
uando as pessoas moram separadas, não vêem as coisas de forma idêntica. E mesmo que mais tarde falem sobre o mesmo assunto, o facto é que o momento virginal já passou e foi vivido de forma desigual; perdeu-se a magia da união de sensações. Decididamente, não é a mesma coisa!

Queriam olhar um para o outro e enternecerem-se com as caras ensonadas e marcadas pela pressão nas almofadas, os cabelos naturalmente em desalinho, os pijamas amarrotados (às vezes descosidos), e com todas essas pequenas coisas simplesmente rotineiras (ou simplesmente maravilhosas?) que fazem o acordar diário para a vida.

Queriam começar o dia com muita energia positiva, trocar carícias e repetir vezes sem conta o quanto se amavam e precisavam um do outro, e quão boa era essa cumplicidade e dependência!

Queriam de mãos dadas agradecer a Deus, todos os dias, profunda e sentidamente, a Graça de os ter cruzado no mesmo caminho e de ter permitido que se encantassem imediata e mutuamente, como verdadeiras almas gémeas.

Queriam também agradecer um ao outro a perseverança da insatisfação, da procura e da espera, pois se conformadamente tivessem desistido nunca teriam tido a ventura desse encontro.

E apesar do passado escrito em cada um, conseguiram manter a candura de sentimentos e os seus corpos imaculados para o amor que se tinham prometido.

Sempre acreditaram que a sua união foi talhada no céu, nesse céu que é a esperança escondida no peito de quem espera e conhece intimamente o poder mágico de um sonho guardado.

Descobriram que afinal é possível dar-se integralmente e mesmo assim viver em plenitude.
Este era agora o tempo deles e eles iriam sorvê-lo.