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21/12/2009

A pequenez das coisas

Era um suplício quando, nas aulas de Ciências Naturais, dissecávamos pombos e rãs. Isso fazia sentir-me tão triste. Sentia-me como uma profanadora de templos ao abrir as entranhas do animal, revolvendo ao pormenor o mecanismo que tinha feito aquele ser respirar e existir.
Transformá-lo num instrumento e objecto de experiência laboratorial, para facilitar a compreensão e o domínio do nosso pequeno mundo, parecia-me uma heresia e uma tremenda violentação.
Imaginei-me em situação idêntica, dissecada por uma espécie mais inteligente, atenta às minhas entranhas e ignorante da minha essência, revoltada “Não será através dos meus intestinos que me chegam à alma!”.


Dizia o Principezinho que o essencial é invisível aos olhos.
O lado mágico das coisas, a força e a inteligência que estão por detrás da Manifestação, essa não podemos dominar, porque nem sequer a vemos. Talvez nunca a vejamos, focalizados que estamos no esquartejar do mundo para fazê-lo caber na nossa compreensão.

Incapazes de voarmos para abraçar o absoluto, reduzimos o mundo ao nosso tamanho e chamamos a isso evolução.

13/07/2009

Dias felizes

Decidiram ir morar juntos porque era-lhes insuportável continuar a acordar todos os dias longe um do outro.

Queriam despertar e testemunhar a luz matinal em simultâneo e com o mesmo olhar. Achavam que q
uando as pessoas moram separadas, não vêem as coisas de forma idêntica. E mesmo que mais tarde falem sobre o mesmo assunto, o facto é que o momento virginal já passou e foi vivido de forma desigual; perdeu-se a magia da união de sensações. Decididamente, não é a mesma coisa!

Queriam olhar um para o outro e enternecerem-se com as caras ensonadas e marcadas pela pressão nas almofadas, os cabelos naturalmente em desalinho, os pijamas amarrotados (às vezes descosidos), e com todas essas pequenas coisas simplesmente rotineiras (ou simplesmente maravilhosas?) que fazem o acordar diário para a vida.

Queriam começar o dia com muita energia positiva, trocar carícias e repetir vezes sem conta o quanto se amavam e precisavam um do outro, e quão boa era essa cumplicidade e dependência!

Queriam de mãos dadas agradecer a Deus, todos os dias, profunda e sentidamente, a Graça de os ter cruzado no mesmo caminho e de ter permitido que se encantassem imediata e mutuamente, como verdadeiras almas gémeas.

Queriam também agradecer um ao outro a perseverança da insatisfação, da procura e da espera, pois se conformadamente tivessem desistido nunca teriam tido a ventura desse encontro.

E apesar do passado escrito em cada um, conseguiram manter a candura de sentimentos e os seus corpos imaculados para o amor que se tinham prometido.

Sempre acreditaram que a sua união foi talhada no céu, nesse céu que é a esperança escondida no peito de quem espera e conhece intimamente o poder mágico de um sonho guardado.

Descobriram que afinal é possível dar-se integralmente e mesmo assim viver em plenitude.
Este era agora o tempo deles e eles iriam sorvê-lo.

05/06/2008

A minha paixão

Tenho, sempre tive, um enorme fascínio pela história de Cristo. Foi ele a minha primeira paixão, este homem bom, pleno de Amor, idealista, um louco talvez, mas de uma loucura compassiva, que trouxe uma chama belíssima a este mundo. Imagino como tudo seria hoje muito mais selvagem e desumanizado, se de alguma forma a influência benéfica deste homem não estivesse quase atavicamente impregnada nos nossos corações.
Por isso quando se fala, se escreve, se produz sobre ele, eu fico sempre alerta, cheia de ansiedade e receio de que de alguma maneira (por via da escolha dos actores, da produção/encenação, etc.) seja adulterada a sua história e a sua imagem ou, melhor dizendo, a imagem que alimento da pessoa que creio ele tenha sido.
Depois de ter sido um sucesso de bilheteiras como opera rock em Londres e NY, em meados dos anos 70, o filme "Jesus Cristo Supertar" estreou em Portugal. Acho que nunca mais o larguei... vi-o uma dezena de vezes... , e decorei as músicas todas do princípio ao fim (naquele tempo havia tempo para isso), porque entretanto lá em casa comprámos o disco.
Ainda hoje me deleito quando ouço o CD, recordo as letras, as vozes, as entradas, a orquestra... Tenho-o gravado na minha pele, nos meus sentidos.
Por esta razão, quando me predispus a ir ver este espectáculo do La Féria, no Politeama, ía dividida entre o fascínio e a expectativa. Fascínio, porque adoro espectáculo, música, dança e, para além de tudo, ía assistir a mais uma versão da história do meu bem-amado; expectativa, porque tinha muito receio de que em nada as vozes, os actores, os cenários, as letras (ainda para mais traduzidas), correspondessem à fantástica obra original.
Digo-vos apenas que vim cheia. Assisti a um dos mais magníficos espectáculos de sempre, ao nível e em superação de qualquer espectáculo internacional que se possa ver por esse mundo fora.
Lembrei-me com grande saudade, da mesma emoção e entusiasmo juvenis ao assistir a outro musical sobre a vida de Cristo, "GodSpell" (também nos anos 70 em Portugal), protagonizado pelos jovens actores, então em início de carreira, Carlos Quintas, Joel Branco, Rita Ribeiro, Verónica, Vera Mónica...
Acredito na arte do espectáculo em Portugal e admiro o trabalho e talento de todos quanto a expressam com seriedade.

01/05/2008

Encontro

Já passava das 12 badaladas. Aquela cinderela não tinha carruagem, nem sapatinhos de cristal, nem vestido adornado de laçarotes. Desceu pelo seu pé a calçada até à rua do santo, ao som compassado das botas pisando o passeio. Radiante, sentia alguma coisa pairando no ar e esse pressentimento trazia-lhe um sorriso feliz de dentro, animada por um bem estar quase irreal, como quem intui uma promessa prestes a cumprir-se. Como no conto, dirigia-se a um lugar animado por dança e música. Logo ali, ao entrar, a visão que lhe cativou os sentidos. No vazio da sala, um único homem enleava-se solitariamente num dançar feito de ritmos quentes e sensuais, esperando o seu par. Percebeu-a, logo à chegada. E iluminando-se com o sorriso mais bonito que alguma vez ela havia visto, foi buscá-la para dançar. E assim aconchegados um ao outro como se fossem a sua própria casa, reconheceram na força daquele abraço a magia do encontro.

29/04/2008

Alquimia

As palavras essenciais e justas que gostaria de escrever estão de tal forma enterradas na minha limitação que nem lhes consigo chegar. Sigo pelas figuras de estilo, as comparações, as imagens, as metáforas, pelo recurso a esta redundância humana de buscar pelo lado de fora uma tradução dos estados de alma. Um estar do avesso.
Sinto uma dor magoada como se tivesse sido alvejada, como se tivessem disparado um tiro certeiro no meu coração e a bala ficasse alojada numa zona de fronteira entre a morte e a esperança de vida presa por um fio. E esta parece ser uma situação deveras dolorosa, a incerteza da permanência do lado de cá e a possibilidade de uma passagem para o outro lado.
Mas é um desafio. Há um coração que teima em bater, em vibrar, em mostrar que tem força e dignidade para ir à luta. E aquele objecto dual, estranho, desconfortável, ali alojado, não pode ser subestimado. Há um prenúncio de vida nele, mais do que de morte. O coração tem que cuidá-lo, acomodá-lo, para que se mantenha no mesmo lugar. Um batimento mais forte, e poderá deslocar-se fatalmente; uma vibração a mais, e o fio de vida poderá partir-se. E o coração, sabendo ser este o caminho a seguir, a busca do equilíbrio entre forças primordiais aparentemente antagónicas, recolhe-se em silêncio trabalhando na alquimia. E corajoso, seguro do Amor que o anima e que só ele sabe sentir, confia que no tempo necessário, tal como uma impureza dentro de uma ostra, a bala nele alojada se transformará em pérola.

06/04/2008

Gatarela

O gato empoleirado no muro preguiça solarengo. A cabeça erguida em direcção ao rio, os olhos semicerrados pela luz, rrrooommm. Olho-o fixamente, centro-o no meu pensamento, chamo-lhe a atenção. Ele vira a cabeça e fita-me. Ficamos assim os dois parados neste sossego, entre o óbvio e a incompreensão. Há um merge; ele entra no meu mundo e eu no dele. Ele humano, eu felina. Comunicamos assim sobre o irreal de ambos os universos. Ele agora tem braços compridos que estende em direcção a mim, envolvendo-me num aconchego peludo. Involuntariamente sinto a minha língua áspera a passar pelos meus bigodes. Não falo, ronrono. Gozo a metamorfose, arqueio-me e estico-me prazeirosa. Sinto o movimento e a leveza de cada vértebra a ocupar o seu lugar. Ele passa as garras pelo meu dorso, pela minha cabeça, sussurrando pch, pch, pch. Eu oiço peixe, peixe, peixe... As minhas narinas gulosas sentem esse aroma no ar... alguém está a grelhar o meu almoço, rroommm... De repente, um grito infantil, estridente! Os braços felinos encolhem-se no retomar da sua forma original; a minha língua amacia, o meu ronronar faz-se suspiro. Tique taque, tique taque, neste universo há horas para tudo. Ao meio-dia tudo volta ao seu lugar.

30/03/2008

As Caixas de Deus

Tenho na minha mão duas caixas que Deus me deu para segurar.
Ele disse "Pões todas as tuas mágoas na caixa negra e todas as tuas alegrias na caixa dourada".
Segui as Suas palavras e nas duas caixas, tanto as minhas alegrias como mágoas guardei.
Mas embora a dourada ficasse dia a dia mais pesada, a preta estava tão leve como antes.
Com curiosidade abri a preta, queria descobrir porquê. E eu vi, na base da caixa, um buraco por onde as minhas mágoas tinham caído.
Mostrei o buraco a Deus e perguntei divertida "Onde andarão as minhas mágoas?". Ele sorriu gentilmente e disse,"Elas estão todas aqui comigo!". Perguntei a Deus porque me havia ele dado então as caixas, porquê a dourada e porquê a preta com o buraco?. "A dourada é para manteres contigo e te lembrares sempre das coisas boas, e a preta é para te libertares das más".

24/03/2008

O gosto de amar

Gosto de despertar e testemunhar a luz matinal em simultâneo com o teu olhar.
Gosto de me enternecer com a luz nos teus olhos e com todas essas pequenas coisas que são o acordar diário para a vida.
Gosto de começar o dia contigo trocando abraços e beijos, repetindo vezes sem conta palavras de mel.
Gosto de dar-te a mão e agradecer a deus, profunda e sentidamente, a Graça de nos ter cruzado no mesmo caminho e de ter permitido que nos encantássemos como almas gémeas.
Gosto quando reconheço a perseverança na procura e na espera que nos guiou a este encontro.
Gosto, porque sei os nossos corações imaculados para o amor que vive em nós.
Gosto de saber que há um céu e que nele foi talhada a nossa união, que dele vem a magia deste amor, sem antecipações nem adiamentos.
Gosto de saber que este é o nosso tempo, por fim.

18/03/2008

A passagem

- Onde vais?
- Para a terra da passagem.
- Da passagem?
- É aquele lugar onde não estamos mas
nos sentimos estar, entre a vigília e o onírico.
- Onde tudo acontece? Onde podemos rever e reconstruir a nossa própria história?
- Sim, isso é a arte, a arte de sonhar!
- Quero ir contigo!
- Mas há um risco...
- Qual?
- O de ires atrás das quimeras e caíres, sem conseguires voltar.
- Se me deres a mão muito forte eu não caio. É essa ligação que nos prende à primeira realidade.
- Como sabes isso?

- Aprendi com
Dom Juan... Ficas comigo?
- Sempre, a minha mão e a tua serão a mesma.

31/01/2008

Espaço 'Com'

E ali estavas tu, finalmente, à minha espera...

Danças em mim,
bailarina de ti!
Fazes-me os gestos
levas-me os passos
tiras-me o véu
descobres-me nova!
E assim me enleio
serena de mim
na dança encantada
de céu feita em ti.