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17/12/2008

Assim seja

Eis uma matéria que me diz muito: cuidados paliativos. Eis alguém que diz muito sobre esta matéria: Laurinda Alves.
Não sei se de facto irá acontecer a sua eleição para o Parlamento Europeu, mas se acontecer que assim seja, que ela ponha os cuidados paliativos na ordem de todos os dias.
Os resultados que daí advenham todos agradeceremos, mais cedo ou mais tarde. Nesta ou noutra vida.

21/11/2008

Eutanásia e Cuidados Paliativos

Eutanásia: Afinal de que falamos?
Por Drª Isabel Galriça Neto
(Médica de Cuidados Paliativos, directora da Unidade de CP Hospital da Luz, assistente da Faculdade de Medicina de Lisboa)

Para alguns a eutanásia é a resposta correcta para o sofrimento insuportável das pessoas que, tendo doenças incuráveis e numa fase final da sua vida, entendem não querer continuar a viver.
A eutanásia inclui sempre o acto de provocar a morte numa pessoa gravemente doente, no fim da sua vida, e a pedido desta. Os seus defensores dizem que é uma resposta a reservar apenas para situações excepcionais.

A eutanásia não é a recusa de tratamentos desproporcionados, ditos fúteis, e a eutanásia não é a suspensão desse tratamentos. Com efeito, a recusa ou suspensão de tratamentos desproporcionados é uma boa prática médica, já recomendada e aprovada recentemente em código deontológico. A eutanásia também não é a administração de medicamentos opióides e sedativos, quando a intenção é aliviar o sofrimento. Por outro lado, é inútil associar a eutanásia a vagos conceitos como "morte assistida", "morte digna", "boa morte serena", pois isso só contribui para confundir a opinião pública, com expressões que são tópicos sentimentais e susceptíveis de aludir a muitas outras actuações, de âmbito e natureza diferente da da eutanásia. A realidade do sofrimento em fim de vida preocupa e assusta, e isso é natural e compreensível. Todos queremos garantir para o final dos nossos dias a tranquilidade de um tempo sem dores, sem mal-estar e encerrar serenamente a nossa vida, em paz connosco, com o mundo e com os que nos são queridos.

Os que trabalhamos com doentes em fim de vida e seus familiares sabemos que a larga maioria nos diz: "Eu não tenho medo de morrer, tenho é medo de sofrer!" As pessoas querem habitualmente viver, viver com dignidade e só um sofrimento insuportável as fará desejar morrer, e mais, as fará desejar que as matem.

Os portugueses precisam saber que têm hoje uma resposta técnica e humanizada da medicina para essas situações de sofrimento e que se chama "cuidados paliativos". Estes cuidados de saúde, prestados por equipas de profissionais e voluntários devidamente especializados, promovem a qualidade de vida e a dignidade, respeitam a vida (não a encurtam) mas também respeitam a inevitabilidade da morte (e por isso não prolongam artificialmente a vida).

Isto é: no mundo actual e moderno, a medicina tem meios para mitigar o sofrimento humano, não o deixando tornar-se intolerável e sem manter as pessoas vivas a qualquer custo. Esta é uma resposta não para casos excepcionais, mas "a" primeira resposta nos cuidados de saúde para os que têm doenças graves e incuráveis, que pode e deve ser prestada muito antes dos últimos dias de vida. Se não houver acesso e, sobretudo, se não houver informação sobre cuidados paliativos, a escolha sobre o que queremos para o fim dos nossos dias será feita de forma imperfeita e deturpada, sem estar na posse dos mais recentes dados sobre a matéria. Não se trata de contrapor a "alternativa cuidados paliativos" à "alternativa eutanásia": qualquer que seja a nossa posição sobre a eutanásia, todos devemos ter acesso aos cuidados paliativos. Demos aos cuidados paliativos, enquanto direito humano, o lugar universal que lhes está reservado.

Um recente estudo pioneiro, de representatividade nacional, promovido pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (ver
http://
www.apcp.com.pt) demonstra que 2/3 dos portugueses desconhece a existência e as práticas dos cuidados paliativos. Curiosamente, nesse mesmo estudo, dos indivíduos inquiridos - que representavam a realidade nacional -, 50% dos que se assumiam a favor da eutanásia diziam que mudariam essa posição se tivessem a garantia de que a medicina não os deixaria em sofrimento intolerável. Estes factos revelam um nível de desinformação preocupante e justificam, por si só, mais e melhor informação para os portugueses sobre estas matérias.

Só pode haver debate sobre um tema se houver conhecimento alargado sobre ele. Importa, pois, colocar toda a informação disponível ao serviço do público, com rigor e verdade, evitando abordagens sensacionalistas. A importância do tema nas nossas vidas, o respeito pelos mais vulneráveis e, sobretudo, o respeito pela opinião pública e o dever de a informar justificam-no.
Oxalá possamos assistir a essa mudança.

In Público - Cartas ao Director - 09/11/2008

18/11/2008

H.M.

Lembro-me da tua indecisão em aceitar o convite para vir a Lisboa. Vinhas dar formação em cuidados paliativos. Nessa altura, ainda pouco se falava sobre o assunto.

Estiveste quase para não vir. Não sabias se conseguirias fazer um bom trabalho, porque te iria exigir uma imensa entrega. Tu estavas em estado de choque e com uma enorme dificuldade de lidar com as tuas emoções.

Na semana anterior tinham-te diagnosticado uma neoplasia na perna. Como médico sabias que o veredicto era a amputação. Quando regressasses de Lisboa terias que enfrentar essa perda.
Sentiste-te frágil, estavas com medo.
Desta vez era a tua vida.
E ainda assim sublimaste-te e vieste, generosamente, e nos privilegiaste com a tua sabedoria e a tua presença compassiva, tão dignamente.

Dificilmente alguém poderá esquecer como estiveste em dádiva em todas as horas. Como as tuas palavras eram veiculadas pelo amor à tua missão e àqueles de quem cuidavas. Tocaste-nos de forma plena, profunda, partilhando as tuas vivências, as histórias de vida de tantas pessoas em fase terminal que ajudaste a partir e a quem proporcionaste viver em dignidade os últimos momentos. Foi a tua serenidade, a cadência afectuosa da tua voz, a grandeza espiritual que nos foste revelando ao longo dos dias, que enchiam a sala de um silêncio de escuta que jamais testemunhei.

Muitas vezes ao olhar para ti senti a presença de uma vontade numinosa levando-me para outro estado de consciência, o único estado onde a força Curadora se manifesta e actua. O lugar do nosso encontro.
E à noite, em silêncio, orava por ti e deixava que o espírito me guiasse.

Em cada momento de comunhão bebi as tuas palavras e apreendi a grandiosidade do amor, desse amor incondicional que escuta sem julgamento, que se entrega por inteiro, que tudo comunga, tudo partilha, tudo aceita, tudo perdoa, tudo cura.

Reaprendi que o grande momento de reconciliação com a vida é o de um Ser face à iminência da morte. A morte do outro, a nossa morte. A derradeira oportunidade de transformação.
É em presença dela que nasce a grande oportunidade de um Ser se revelar em plenitude, de se conciliar com a sua vida, com os outros, de deixar cair todas as máscaras, de se ver despido delas e aceitar-se, de abrir o coração à verdade e ao amor, de falar o que nunca foi falado, de perdoar e perdoar-se, de desfazer os nós de enganos que se foram tecendo no cordão da vida.

Disseste que as palavras curam, que é curando o outro que nos curamos também a nós. Que a cura é um acto de amor e que o amor é um milagre. Que em todo e qualquer momento o que mais queremos, a única coisa que realmente queremos, é sermos amados.
E quando as palavras faltarem ou já não forem necessárias, nunca deixes de dizer Amo-te. Diz Amo-te com o corpo, diz Amo-te com os sentidos, diz Amo-te com a alma. Mas não páres de o dizer até ao fim.

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Liguei-te com o coração nas mãos.
- H., diz-me como estás!?
- Queres saber onde estou? Na Torre Eiffel, com os meus filhos, pela primeira vez... vim celebrar.
- E os exames...?
- Estou curado... remissão total. É um milagre.
Não consegui falar, comecei a soluçar de emoção.
- D., é o meu milagre de Lisboa... Merci.

22/10/2008

C.

C., hoje estive lá, naquele mesmo lugar. Como poderia não me relembrar de ti, da primeira vez que te vi? o corpo curvado, o roupão branco com um maço de tabaco no bolso, o pijama azul, os chinelos que te deram no check-in, o teu cabelo fino e comprido colado à testa e às têmporas pelo suor e esse teu olhar triste, de abandono, tombado sobre nós, que desde logo me cativou. Lembro o teu sorriso doce, a tua voz murmurada, o teu jeito tímido, os teus dedos amarelecidos pelos cigarros, o contentamento quando te davam alta e a tristeza quando te via regressar, porque sabia o que isso significava. Mas depois, a alegria que brilhava nos teus olhos quando chegávamos! E sempre, sempre, esse afecto genuíno, essa cumplicidade partilhada, esse entendimento transcendente e sem explicação.
Não sei quantos meses, mas o tempo passou como sempre passa o tempo nestas situações, veloz na falta de piedade e lento pela acção do sofrimento.

Não a querias largar, sinto ainda a força da tua mão direita na minha, a angústia do teu corpo depositada nela, o anseio nos teus olhos, o reflexo do medo. O coração batia-me, não queria que me visses chorar, cantava uma canção de ninar, duas, três, queria sossegar-te, a voz saía-me como um sopro, fica em paz, não tenhas medo, segue a luz.
E tu seguiste-a, que eu sei. De noite vieste ter comigo envolto nela, grande, numinosa! acordaste-me para te despedires e consolidares definitivamente esta certeza profunda que se tornou a minha âncora no eterno.
Os anjos existem.

11/10/2008

Dia Mundial dos Cuidados Paliativos

... Para nos lembrar o quanto ainda nos falta caminhar até termos disponível no nosso sistema de saúde uma rede de cuidados paliativos satisfatória e acessível a todos os doentes em fase terminal, que garanta a redução da dor e o acompanhamento necessário, do ponto de vista físico e psico-existencial, de forma a proporcionar-lhes uma morte com dignidade.