Páginas

07/02/2008

Uma vida com música

Não passou pela minha caixa de correio, mas soube que anda a circular pela net uma petição Contra o Fim do Ensino Especializado da Música em Portugal.
Eis uma matéria que me toca de maneira particular, não apenas pelos anos de aprendizagem musical que tive, ou por fazer parte da minha cultura familiar, mas sobretudo pela grande dedicação e enorme contribuição da minha mãe ao ensino da música em Portugal, durante todo o seu percurso profissional. Quem a conheceu sabe bem do que falo. Enquanto professora e agente de mudança foi, sem dúvida, uma grande impulsionadora de uma pedagogia de ensino integradora e inovadora, defendendo a arte, e em particular a música, como alicerce da formação do carácter, factor de estabilização emocional e de desenvoltura cognitiva. Eu não saberia agora enumerar a quantidade de idas ao ministério da educação e de propostas que, ao longo dos anos, apresentou a diferentes responsáveis, com o objectivo de incluir as expressões artísticas como disciplinas curriculares nos programas de ensino, de forma sistemática e irrevogável. Nem saberia dizer quantos professores, educadoras de infância e alunos por este país fora, foram bafejados pelo seu toque de Midas.
Decerto muitas crianças, hoje adultas, a lembrarão. Foi ela que, em 1 de Junho de 1975, no 1º Dia Mundial da Criança celebrado em Portugal, levou a festa às crianças no anfiteatro da Fundação Calouste Gulbenkian; que uns anos depois, em 78, acompanhou a Ana Rita, a primeira participante portuguesa no festival da canção da Unicef; que, com os seus alunos, animou muitas crianças no “Natal dos Hospitais”; que, no início dos anos 80, organizou na Biblioteca Nacional, em Lisboa, a primeira exposição de instrumentos musicais construídos pelos seus alunos com material de desperdício (na época ainda não se falava do aproveitamento de material reciclável).
Decerto ainda hoje, miúdos e graúdos a evocam diariamente nas salas de aulas, através dos livros de jogos, danças e canções, que elaborou com tanto afecto e empenho. Alegra-me sabê-la assim festejada!
Por isso não poderia ficar indiferente a este ameaçador acabar do ensino especializado da música, seja a que instâncias for. E com ou sem legitimidade, vos peço que repensem este tema se a dita petição vos cair na caixa de correio.

Sem comentários: