No passado Domingo, no programa "E Depois do Adeus" da RTP1, o tema foi os idosos e todos os problemas e necessidades que os afectam, os maus tratos, o abandono, a solidão, a doença, a precaridade económica, bem como a ausência de estruturas e instituições que, do ponto de vista humanístico, social e clínico, possam dar o apoio que todos os idosos de hoje merecem e que todos NÓS, os do futuro, mereceremos. Já em Janeiro eu tinha aqui tocado ao de leve neste assunto.
Às vezes distanciamo-nos deste problema, porque não parece ser a nossa realidade pessoal, é a realidade de outros. Não obstante, esses outros também já foram jovens, alegres, saudáveis e, provavelmente como muitos de nós, também fecharam os olhos a estas questões.
A qualidade do nosso futuro pessoal e a qualidade de vida que queremos legar às crianças e jovens de hoje, não pode ser adiada, nem as opções e decisões para que isso aconteça deixadas apenas ao critério de quem governa (e este governar não é apenas político). A nossa inércia cívica terá custos elevados que nos serão inexoravelmente cobrados.
Quando era pequena, da simpatia que nutria pelos velhinhos com quem me cruzava, brotou em mim o sonho de ganhar a lotaria e mandar construir uma aldeia com um grande parque cheio de lagos e jardins, para onde as pessoas mais velhas pudessem ir viver tranquilamente em casinhas, simulacros dos seus próprios lares, onde tivessem quem cuidasse delas. Uma espécie de resort com residências assistidas, dos dias de hoje.
Naturalmente, naquela época o meu espírito inocente e compassivo construiu um projecto sem fins lucrativos; a intenção era a de proteger a doçura da velhice de todas as agressões, proporcionando conforto e dignidade a todas as pessoas nesse tão frágil período de vida.
Não sou caso raro. Ao longo do meu caminho cruzei-me com muita gente que confidenciou ter tido o mesmo tipo de idealismo infantil. Pergunto-me apenas porque o perdemos (ou o adulteramos) na maturidade, quando é precisamente esta a altura em que temos ferramentas para trazer o sonho à realidade.
Na verdade, não posso dizer que o tenha perdido. Ainda hoje penso que se ganhasse o "Euromilhões" (sinais dos tempos...), a minha bússola interna apontava para aí e para outras mais valias que fui, entretanto, acrescentando ao meu sonho virginal.
O que receio é que, para além de nunca vir a ganhar o dito baú do tesouro..., o tamanho da minha ambição onírica seja inversamente proporcional à minha dinâmica de acção, e que eu acabe por ver morrer um sonho sem sequer o ter deixado viver.
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