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24/01/2008

Eu pecaDora me castigo

Ontem durante uma missa de 7º dia, o meu pensamento voou para algumas questões sobre a representação da igreja na nossa cultura e debilidade espiritual. Questionava-me, por exemplo, porquê que em vez de nos juntarmos num local mais íntimo, familiar, para lembrarmos e orarmos pelo ser que partiu, nos deslocamos a uma igreja, assistimos a todo um cerimonial distanciado do nosso histórico afectivo e das nossas memórias, e ouvimos, em jeito de enumeração de premiados de alguma lotaria de bairro, o nome daquele que é a razão de estarmos ali, diluído entre tantos outros nomes. "E isto é pago", pensei.
A verdade é que há uma portagem nesta ponte que liga a dimensão terrena à divina, com gestão feita pela Igreja. Como instituição, é uma prestadora de serviços. Presta Serviços Religiosos e nós, utentes, incapazes ou descrentes da capacidade de elevar a nossa voz directamente aos céus, assinamos o contrato de intermediação.
E isto pareceu-me mal, porque sinto haver aqui uma intenção de privação da nossa autonomia e da liberdade de alcançarmos o divino apenas pela via natural da nossa vontade.
Observo o padre na preparação do cerimonial da Comunhão. Os panos, o vinho, a manipulação das hóstias…
E de repente, num sussurro cínico de S., o apelo ao real: “Ainda a ASAE não se lembrou de vir às igrejas…”. Riso abafado. Oração. “Se calhar a Igreja tinha mais fiéis se diversificasse nas hóstias, podia ter umas com cobertura de chocolate…brigadeiro, ou doce…”. Mais risos. Imaginei a inevitável pergunta do padre ao fiel “Simples ou com cobertura?”. Silêncios. Ele de volta: “E opções de vinho… Douro, Dão, Alentejo…”. E eu pensei, já sem retorno, Quem sabe champanhe… se é uma celebração!
E isto assim, só para enganar o medo.

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