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31/01/2008

Como é que é?

O "Público" de hoje soltou estas duas: uma, que devido à proibição de fumar, os bares, discotecas e restaurantes, estão a perder receitas que chegam aos 70%, o que, em alguns casos, está a levar os proprietários a encarar a hipótese do despedimento de funcionários.
Aqui, nesta ponta da Europa, onde o tabaco acaba e o desemprego começa...

A outra, que o Estado da Califórnia aprovou a instalação de máquinas para venda de marijuana.
Bom, já que andamos a reboque dos EUA, pode ser que o nosso governo faça o mesmo e com isso crie novos postos de trabalho para os desempregados que resultarem da lei anti-tabágica.


Espaço 'Com'

E ali estavas tu, finalmente, à minha espera...

Danças em mim,
bailarina de ti!
Fazes-me os gestos
levas-me os passos
tiras-me o véu
descobres-me nova!
E assim me enleio
serena de mim
na dança encantada
de céu feita em ti.

30/01/2008

O destino andava de barco

Faz hoje 50 anos, conheceram-se; faz hoje 49 anos, casaram-se. Os meus pais. Também há muito, muito tempo, o “DN Jovem” premiou-me pelo texto onde falei desse encontro, dessa história de amor a bordo de um navio, fruto de uma grande conspiração do universo! Não tenho dúvidas de que este seria um argumento perfeito para um filme perspectivado na força transpessoal que nos conduz. Perco-me por vezes a fantasiar sobre as inúmeras coincidências que concorreram para que estas duas almas, uma portuguesa, a outra brasileira, se cruzassem naquele navio e encontrassem na Argentina o pano de fundo do romance das suas vidas. A minha mãe adorava a sua terra, a sua casa, a sua família. Não imaginava, jamais, que as pudesse deixar. Não, pelo menos, naquela época, em que o nosso Portugal, num estado de depressão neurótica pardacenta, onde a alegria era apenas uma palavra no dicionário, contrastava com aquele Brasil colorido e musicado, onde as senhoras já fumavam e andavam de calças compridas. Mas assim foi. E aqui lhes rendo esta pequena homenagem, a ele que decidiu ainda aqui ficar e a ela, que partiu, pela sua febre de voar. Um dia já escrevi, frágil não é quem parte buscando no porvir a sua liberdade; frágil é quem fica, lembrando o ausente em apertos de saudade.

29/01/2008

Sonhar com alma

Coisa bonita esta de fazer acontecer os sonhos de quem não desiste de sonhar! A "Terra dos Sonhos" é isso que faz por jovens e crianças fragilizadas por doença. Uma associação a Fazer com Alma...

Feliz Ano Novo!

Homenagem às queridas B.e C., que hoje começam um novo ano! É dia de risos e flores, de amigos para abraçar, de chacuti e de sushi!

Incomoda-me


Pela apologia da palhaçada.
Pela hipnose colectiva.
Pela inquietude em me deixa.




28/01/2008

Transparente

Tenho muito para dizer.
As nuvens afinal não são brancas mas transparentes,
Só parecem brancas porque o transparente está muito acumulado,
muito apertadinho, e dá a ilusão de outra cor.
É como o mar, que também é transparente e não azul, nem verde.
É como o céu todo, que também é transparente e afinal parece azul
(Incrivelmente mentiroso este universo em que vivemos!)
E eu, de que cor seria se houvesse muitas iguais a mim,
todas esprimidinhas e compactadas?

24/01/2008

Dom Supremo

Falar de amor é uma arte que me enebria. Não me canso de ler este texto e de me deixar seduzir pela sua beleza e profundidade. Partilho-o convosco.


Texto de Luís Portela, médico e administrador de empresas

"Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba."
Assim escreveu o apóstolo Paulo aos Coríntios, texto citado pelo pensador escocês Henry Drummond, no final do século XIX, na sua obra "O dom supremo", recuperada com o mesmo título pelo escritor brasileiro Paulo Coelho, em finais do século XX. Texto sempre actual e sempre propício a uma nova leitura e a um maior aprofundamento.
O amor é paciente. Implica disponibilidade crescente, sem nada cobrar. Entende, aguarda, persiste, serena e coerentemente. Amar é praticar o bem sem olhar a quem. Procurar fazer os outros felizes, mas completos, íntegros e sem distinções: os que nos são mais próximos, mas também os mais distantes; amigos, conhecidos e mesmo inimigos; humanos e não só, toda e qualquer partícula do Todo. Darmo-nos sem hora marcada e sem adiamento: já e, a partir de agora, sempre!
O amor não compete, nem inveja; admite generosamente que há outros que amam, idealizam, realizam. Tanto ou mais. E isso não alimenta ciúme [nem inveja], antes dá satisfação. Satisfação pelos outros, pelo Todo, de quem procura simplesmente (ou talvez até humildemente) fazer a sua parte.
O amor é algo delicado nas grandes e, sobretudo, nas pequenas coisas. Não consegue ser agressivo, grosseiro ou inconveniente. Não tem que ver com snobismo ou cumprimento de regras. É, em si, "a regra que resume todas as outras regras", pela qual assumimos intrinsecamente que não existe verdadeira felicidade em ter e em receber, mas apenas em dar e em servir.
O amor é tolerância, desconhecendo preconceitos e falsos virtuosismos. Aceitar os outros como eles são, tendo pena que ainda não saibam ser melhores e ajudando-os no seu caminho de aprendizado. Construir discretamente o paraíso dentro de si mesmo e permitir que ele extravase, contribuindo para a transformação evolutiva.
O amor não se ressente do mal. Na sua simplicidade e na sua inocência, afasta o que está errado, renova, regenera, reconstrói. Talvez lentamente, mas com eficácia. Na sua sinceridade, busca a verdade. Não a verdade que lhe foi ensinada, mas a que resulta da sua própria progressão e que algum dia se confundirá com a de todos os outros; aí sim, verdade!
O amor não é uma mera noção teórica, é algo que se pratica e desenvolve, até permanecer. Num mundo onde tudo passa, desde o deslumbramento dos sentidos até aos prazeres materiais, desde o orgulho até ao poder das armas, desde os preceitos religiosos até aos conhecimentos científicos, apenas o amor permanece. Permanece, preenche, É.
Como dizia Henry Drummond, "nenhum homem se torna santo enquanto dorme". É necessário ponderar, idealizar, concentrar esforços e realizar. Sobretudo realizar. Numa época conturbada como aquela em que vivemos, poderá ser útil dissertar sobre o amor ou desejar que os governantes dos diferentes países saibam construir a paz. Mas será determinante que cada um de nós saiba viver em amor, construindo a paz em si e a partir de si. Para Drummond "o Amor – dom supremo – é o segredo da vida". Talvez mais do que dom, seja conquista; talvez mais do que segredo, a própria vida. "

Eu pecaDora me castigo

Ontem durante uma missa de 7º dia, o meu pensamento voou para algumas questões sobre a representação da igreja na nossa cultura e debilidade espiritual. Questionava-me, por exemplo, porquê que em vez de nos juntarmos num local mais íntimo, familiar, para lembrarmos e orarmos pelo ser que partiu, nos deslocamos a uma igreja, assistimos a todo um cerimonial distanciado do nosso histórico afectivo e das nossas memórias, e ouvimos, em jeito de enumeração de premiados de alguma lotaria de bairro, o nome daquele que é a razão de estarmos ali, diluído entre tantos outros nomes. "E isto é pago", pensei.
A verdade é que há uma portagem nesta ponte que liga a dimensão terrena à divina, com gestão feita pela Igreja. Como instituição, é uma prestadora de serviços. Presta Serviços Religiosos e nós, utentes, incapazes ou descrentes da capacidade de elevar a nossa voz directamente aos céus, assinamos o contrato de intermediação.
E isto pareceu-me mal, porque sinto haver aqui uma intenção de privação da nossa autonomia e da liberdade de alcançarmos o divino apenas pela via natural da nossa vontade.
Observo o padre na preparação do cerimonial da Comunhão. Os panos, o vinho, a manipulação das hóstias…
E de repente, num sussurro cínico de S., o apelo ao real: “Ainda a ASAE não se lembrou de vir às igrejas…”. Riso abafado. Oração. “Se calhar a Igreja tinha mais fiéis se diversificasse nas hóstias, podia ter umas com cobertura de chocolate…brigadeiro, ou doce…”. Mais risos. Imaginei a inevitável pergunta do padre ao fiel “Simples ou com cobertura?”. Silêncios. Ele de volta: “E opções de vinho… Douro, Dão, Alentejo…”. E eu pensei, já sem retorno, Quem sabe champanhe… se é uma celebração!
E isto assim, só para enganar o medo.

23/01/2008

Droga de morte - Heath Ledger

Tudo indica para que tenha sido mais uma vítima da droga. O menino bonito e excelente actor do polémico "Brokeback Mountain", morre assim aos 28 anos.

22/01/2008

Maus tratos a idosos

Começo a ter pânico de envelhecer! Para além da improbabilidade de uma reforma, da miopia agravada por cataratas, das scuts na testa, dos tropeções das minhas carnes flácidas, da perda de memória e do belo teclado dentário, que mais me irá acontecer? A maus tratos de filhos e netos serei poupada… a carne da minha carne não existe para me fazer mal. Mas, e o resto da sociedade? Atrás da minha chalaça está o medo, porque isto é dramático q.b.
Numa altura da vida em que nos debateremos entre a fragilidade física e a solidão emocional, ainda teremos que ser confrontados com a violência dos nossos “cuidadores”? Morre-se, de tanta injustiça!
Não sei o que podemos fazer, mas precisamos reflectir sobre isto.

DN - A tendência está à vista. O fenómeno de violência contra idosos tem vindo a aumentar em Portugal. Os mais recentes números conhecidos revelam que, nos últimos cinco anos, os registos deste tipo de violência triplicaram, dos mais de oito mil casos para os quase 25 mil em que a vítima do crime tem mais de 64 anos.

18/01/2008

Sawabona, Shikoba!


Texto de Flávio Gikovate - Médico Psicanalista
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste século. As relações afectivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para a nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século.
O amor romântico parte da premissa de que somos uma fracção e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.
Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher.

Ela abandona suas características para se amalgamar ao projecto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raíz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante.
Uma ideia prática de sobrevivência e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia; mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas.
Elas estão começando a perceber que se sentem fracção, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fracção.
Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo e depois tem que ir-se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguem trabalhar sua individualidade.

Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afectiva.
A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afectivas são óptimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.
Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes pensamos que o outro é a nossa alma gémea e na verdade o que fizémos foi inventá-lo ao nosso gosto.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo e não a partir do outro.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável.
Nesse tipo de ligação há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...

Caso tenha ficado curioso(a) em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África, quer dizer: “Eu te respeito, eu te valorizo, você é importante para mim”. Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é: “Então eu existo pra você”.

Intrusa

A morte entra sempre sem pedir licença. É a única intrusa que temos a certeza virá quando lhe apetecer, sem convite nem hora marcada. Aparece, impõe-se, marca território, senta-se connosco, come, arrota, incomoda (incomoda tanto!), e nunca, mas nunca, pede perdão. Pior do que isso, no fim ri-se. Ri-se que se farta, a ordinária.