Poderia ser esse o título do teu filme.
Se não tivesses fechado a porta, quem sabe eu teria entrado e alterado o teu guião...
Não me pudeste dar o tempo. E a solidão agora é minha.
Jamais voltarei a ser D. white.
Estou in black, for you. Forever.
30/12/2008
29/12/2008
O espírito da matéria
Não é novidade, mas de ano para ano cada vez o Natal me parece menos celebração e mais frustração, menos espiritualidade e mais materialismo.
E digo isto sem querer melindrar a prata da casa, que faz o possível por recriar no Natal o espírito que lhe é próprio, conferindo-lhe a dimensão religiosa de origem. E vergo-me, grata, a todos que desenvolvem iniciativas que dignificam esta quadro, já que eu, honestamente, gosto de saboreá-las mas a sua confecção não me estimula.
Falava eu de frustração e materialismo.
Há dias, na secção infantil do C.I. fiquei com a sensação de que estava rodeada por um batalhão de formigas desesperadamente à procura de provisões para se garantirem no Inverno.
As listas dos pedidos ao “pai Natal” nas mãos e a expressão de frustração nos rostos, porque muitas coisas já estavam esgotadas.
Alguém comentou em desabafo “meu Deus, se eu não conseguir encontrá-los noutro lado [os presentes], isto para ele nem vai ser Natal!”. Tentei ver o rosto do comentário para ver se percebia qual seria a interpretação correcta a dar à coisa, mas a confusão era grande. Fiquei apenas a pensar nesta tendência crescente de reduzir o Natal a um amontoado de papéis e laçarotes.
Quando eu e os meus irmãos éramos miúdos e acreditávamos no Pai Natal, pedíamos coisas aparentemente impossíveis de se conseguirem, mas os meus pais davam voltas e mais voltas (eu até acho que eles faziam milagres...) e na maior parte das vezes encontravam o que queríamos. Digamos que a taxa de sucesso andava à volta dos 90%, o que para a época era um feito!
Como os nossos mealheiros eram magros, nós é que fazíamos os presentes que dávamos aos pais, aos irmãos, aos tios, à avó, ou juntávamo-nos e comprávamos “a meias” o que era possível... Uma coisa é certa, lembro-me que sempre démos, ainda que simbolicamente.
E digo isto sem querer melindrar a prata da casa, que faz o possível por recriar no Natal o espírito que lhe é próprio, conferindo-lhe a dimensão religiosa de origem. E vergo-me, grata, a todos que desenvolvem iniciativas que dignificam esta quadro, já que eu, honestamente, gosto de saboreá-las mas a sua confecção não me estimula.
Falava eu de frustração e materialismo.
Há dias, na secção infantil do C.I. fiquei com a sensação de que estava rodeada por um batalhão de formigas desesperadamente à procura de provisões para se garantirem no Inverno.
As listas dos pedidos ao “pai Natal” nas mãos e a expressão de frustração nos rostos, porque muitas coisas já estavam esgotadas.
Alguém comentou em desabafo “meu Deus, se eu não conseguir encontrá-los noutro lado [os presentes], isto para ele nem vai ser Natal!”. Tentei ver o rosto do comentário para ver se percebia qual seria a interpretação correcta a dar à coisa, mas a confusão era grande. Fiquei apenas a pensar nesta tendência crescente de reduzir o Natal a um amontoado de papéis e laçarotes.
Quando eu e os meus irmãos éramos miúdos e acreditávamos no Pai Natal, pedíamos coisas aparentemente impossíveis de se conseguirem, mas os meus pais davam voltas e mais voltas (eu até acho que eles faziam milagres...) e na maior parte das vezes encontravam o que queríamos. Digamos que a taxa de sucesso andava à volta dos 90%, o que para a época era um feito!
Como os nossos mealheiros eram magros, nós é que fazíamos os presentes que dávamos aos pais, aos irmãos, aos tios, à avó, ou juntávamo-nos e comprávamos “a meias” o que era possível... Uma coisa é certa, lembro-me que sempre démos, ainda que simbolicamente.
Dar fazia parte do espírito.
Mas agora uma coisa me parece cada vez mais evidente: o Natal é assim como o 1 de Junho, o dia Mundial das Crianças, só que com mais luzes e ainda mais presentes.
E até me poderia parecer natural que os presentes diminuíssem na proporção em que a idade aumenta e que as crianças sejam as grandes beneficiárias do Natal (até porque a celebração é mesmo essa, o nascimento de Jesus), se eu não estivesse preocupadamente a aperceber-me da falta de reciprocidade, de que cada vez menos as crianças estão a ser estimuladas a dar e a colaborar (contrariamente à vida de dádiva que foi preconizada por Jesus), mas apenas a pedir e a receber.
Mas agora uma coisa me parece cada vez mais evidente: o Natal é assim como o 1 de Junho, o dia Mundial das Crianças, só que com mais luzes e ainda mais presentes.
E até me poderia parecer natural que os presentes diminuíssem na proporção em que a idade aumenta e que as crianças sejam as grandes beneficiárias do Natal (até porque a celebração é mesmo essa, o nascimento de Jesus), se eu não estivesse preocupadamente a aperceber-me da falta de reciprocidade, de que cada vez menos as crianças estão a ser estimuladas a dar e a colaborar (contrariamente à vida de dádiva que foi preconizada por Jesus), mas apenas a pedir e a receber.
E isto não é bom.
19/12/2008
Em dó maior
Estava apenas a ver um filme, o "Elefante". Algo que ultrapassa a minha incompreensão, este gene da loucura que leva dois jovens munidos de armas a entrarem na escola e matarem quem encontram pela frente. Seria tão mais fácil entender essa crueldade se a justificasse pela ausência total de sensibilidade...
Só que antes, um deles toca piano. Quem aprende a tocar piano insensivelmente?
E as duas músicas que toca fazem-me chorar. As minhas lágrimas correm em silêncio para não perturbarem o aflorar das memórias que aqueles sons me trazem. Saudades de mim. Saudades dela.
E de novo eu estava ali, aos 12 anos, com o meu robe cor-de-rosa almofadado, sentada ao piano, as mãos a deslizarem pelo teclado. E a minha mãe ao meu lado, apontando-me com o bico do lápis as notas na partitura.
"Für Elise". Tocava-a melhor nessa idade do que hoje. Na verdade, hoje só a toco pelos sentidos, pela memória; as minhas mãos há muito que a esqueceram.
Saudade de mim, disse eu. Na verdade não sei se é de mim. Talvez seja apenas das possibilidades que eu tinha nessa altura, do potencial que a vida parecia oferecer. Aquilo em que investi durante anos desvaneceu-se. O piano, o violoncelo, o bailado... Fazemos opções numa idade em que não temos maturidade sequer para opinar, julgando que incessantemente a vida nos vai presentear com inúmeras e melhores possibilidades.
Saudade dela sim. Da forma como emocionava o meu coração juvenil quando tocava; como me inundava com a melancolia e o pesar do "Noturno" de Chopin. Gostava tanto de me deixar hipnotizar pelos seus dedos volteando, demorando-se sobre o teclado...
Seis horas por dia, dizia, era o que o meu avô a obrigava a praticar. E eu pensava "nunca vou ser capaz de estar seis horas por dia a fazer o que quer que seja". Mas estive sim, bem mais do que isso, durante anos, a fazer coisas para as quais já não me sinto talhada, que apenas me despertam enfado.
Saudade, da oportunidade que tive para gravá-la enquanto tocava, para ficar com essa recordação materializada. Tantas horas de trabalho, tantas horas de escuta, e nem um único segundo registei... Quantas e quantas vezes quis ter à mão uma cassete, um CD, que me trouxessem de volta esses sons, me fizessem reviver esses momentos.
Não pensei que pudessem chegar-me pelas mãos de um assassino, ainda que ficcionado.
Mas as memórias não escolhem, abrem caminhos.
Talvez um dia me cheguem, vivas, pelas mãos do divino.
17/12/2008
Assim seja
Eis uma matéria que me diz muito: cuidados paliativos. Eis alguém que diz muito sobre esta matéria: Laurinda Alves.
Não sei se de facto irá acontecer a sua eleição para o Parlamento Europeu, mas se acontecer que assim seja, que ela ponha os cuidados paliativos na ordem de todos os dias.
Os resultados que daí advenham todos agradeceremos, mais cedo ou mais tarde. Nesta ou noutra vida.
Os resultados que daí advenham todos agradeceremos, mais cedo ou mais tarde. Nesta ou noutra vida.
07/12/2008
Esse grande filho da puta
Soube uma má notícia. Estou chocada, revoltada. Agora é tarde para qualquer telefonema. Ou melhor, não é a qualquer pessoa que se liga a esta hora para dizer o que nos vai na alma. E só me apetece dizer palavrões para exorcizar a minha raiva e incompreensão. Dizer que a vida é fodida, que nos fode a todos, a toda a hora, de todas as maneiras e feitios, a torto e a direito, e não me venham com merdas e dizer que é preciso ser-se positivo e o caraças, porque a vida fode também quem pensa assim.
Há pessoas que não fazem cá falta nenhuma, essa é que é a verdade; que andam para aí a vampirizar o planeta e duram mais do que a conta, como se tivessem caído num caldeirão de "Duracell" à nascença. Toda essa corja de cabrões parasitários, sociopatas e psicopatas que se apoderaram do mundo e o manipulam, corrompem e destroem, que o enchem de merda onde nos querem atolar e exterminar. É clichê, mas estas pessoas deviam desaparecer primeiro.
Uma espécie de limpeza da espécie, para ser redundantemente objectiva.
Mas há outras pessoas, outras, que são verdadeiras almas de luz, anjos na terra, pequenas lufadas de bondade, de dádiva e amor, que parecem ter sido escolhidas para bodes expiatórios, para padecerem das dores do mundo em sacrifício dos demais.
Não foi o que nos ensinaram sobre Cristo, que a sua bondade veio libertar os males do mundo? Seria incompreensível que o mestre partisse sem deixar discípulos.
Às vezes somos bafejados pela graça das suas presenças nos nossos micro cosmos. São seres que têm alma crística; fazem percursos pessoalmente dolorosos em prol dos seus, vivem vidas de abnegação e renúncia em nome do amor incondicional. E entre suores, dores e lágrimas, nunca perdem o sorriso, aquele brando sorriso de bonomia e compaixão que é espelho da misteriosa presença do divino.
E depois, quando a vida parece dar tréguas e trazer-lhes finalmente a acalmia, quando a lei do eterno retorno devia manifestar-se concedendo-lhes o direito a um novo respirar, atribuindo-lhes os legítimos créditos pelas suas vidas de sacrifício, eis que que ele chega em surdina e se impõe à revelia: esse grande filho da puta chamado cancro.
Sinto-me uma formiga querendo parecer ter dois metros, nesta tentativa de ser emocionalmente lógica e de fazer justiça conceptual. Quem sou eu para julgar a mecânica do universo, para avaliar o que é o mistério da vida, para dizer quem deve ir ou ficar? Porra nenhuma. Eu não sou porra nenhuma. Só sei que há pessoas que são a diferença; que fazem e farão muita falta. É só o que sei.
05/12/2008
Sem fim
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