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29/12/2009

Contacto


Baseado no livro com o mesmo nome, "Contacto", de Carl Sagan, de vez em quando revisita-nos no canal "Hollywood".

Carl Sagan foi um céptico levado ao extremo, como qualquer bom crente, eu diria. Sempre tive isto para mim, que os maiores cépticos são os que mais crêem mas têm um medo profundo da verdade que os sustenta intimamente. Desacreditam até não haver mais alternativas de negação, para que depois a verdade final seja irrefutável.
Quem conhece um pouco da sua obra sabe que, como cientista, ele nunca deixou cair o véu senão em "Contacto". O seu trabalho parece querer provar que aquilo de que suspeitava não tinha bases científicas comprovadas e por isso sempre o negou, ou melhor, nunca o confirmou.

Mas em "Contacto" ousou mostrar-nos o seu lado crente, personificado por Jodie Foster, também ela no papel de uma cientista céptica da sua própria experiência: "Por um lado tudo o que sei como ser humano me diz que sim, esta experiência pela qual passei é real. Mas como cientista, sou obrigada a reconhecer que não tenho quaisquer evidências que a possam validar".

Estava a referir-se à sua viagem cósmica e ao contacto alienígena. Fisicamente, não saiu da plataforma de lançamento, mas a sua mente, a sua consciência, seja o que for, viajou durante 18 horas pelo cosmos. É assim, dizem os estudiosos desta matéria, que somos contactados e viajamos pelo universo: através da mente. Sendo assim, como prová-lo efectivamente? É uma experiência pessoal, individual, como conseguir que seja credível senão pela nossa própria confirmação, pela nossa palavra?

No nosso micro-cosmos valem os papéis, as experiências laboratoriais, as provas materializadas. Mas as palavras que atestam uma experiência pessoal, imaterial, não.

Somos apenas um corpo animado por uma energia vital que se desagrega irreversivelmente no processo de morte. Grosso modo, o exemplo de uma lâmpada dá-me a metáfora. A energia não se vê, mas sabemos que se manifesta através da lâmpada e que continuará a existir mesmo que ela se funda. Por onde anda a circular essa energia quando não está a ser utilizada?
O facto de conhecermos todo o seu processo de captação e distribuição, faz com que a vejamos? Alguém alguma vez viu efectivamente a electricidade? Não. Apenas sabemos que existe pelos seus efeitos.
Porque será então que temos tanta dificudade em aceitar que enquanto dormimos, sonhamos, estamos inconscientes, a nossa energia possa circular por outras esferas às quais o corpo físico, pela sua densidade e materialidade, não pode aceder?
Acredito profundamente que o fazemos e sei intimamente que a beleza do universo é indescritível. Como ela no filme disse numa comoção contagiante: "Não há palavras, não há palavras... é pura poesia! Deviam ter enviado um poeta! É tão lindo, tão lindo!".


Para mim, esta é a maior mensagem de fé e de esperança que Sagan poderia deixar-nos.

28/12/2009

Olhas-me, logo existo

Um homem pode alcançar tudo na solidão, excepto um carácter.
Stendhal

Tomei de empréstimo ao Gigante Egoísta esta reflexão, por me fazer tanto sentido na construção do Ser que nos prometemos cumprir através do olhar amoroso do outro.
O meu ser que se reverencia perante o teu, dá vida e valida a tua existência.

"(...) A asserção de Stendhal traduz a noção de que o nosso carácter nasce nas reacções dos outros a nós próprios. Isto implica que necessitamos dos outros para nos sentirmos completos.

Sentirmo-nos completos lembra-nos a ideia aristofânica da cara-metade proposta no banquete platónico. O ponto a que quero chegar é que o amor é a função através da qual nos podemos sentir completos. O amor permite um feedback contínuo, que funciona como uma confirmação permanente da nossa identidade própria. São, assim, necessários sempre dois para que haja uma completude identitária.

Pode ser assim entendido o conceito de um Deus, central à maioria das religiões, Deus esse que nos vê a todo o momento e nos ama. Ser visto significa que se existe, e ser visto por alguém que nos ama é receber os contornos directores daquilo que nós próprios desejamos intrinsecamente ser."

21/12/2009

A pequenez das coisas

Era um suplício quando, nas aulas de Ciências Naturais, dissecávamos pombos e rãs. Isso fazia sentir-me tão triste. Sentia-me como uma profanadora de templos ao abrir as entranhas do animal, revolvendo ao pormenor o mecanismo que tinha feito aquele ser respirar e existir.
Transformá-lo num instrumento e objecto de experiência laboratorial, para facilitar a compreensão e o domínio do nosso pequeno mundo, parecia-me uma heresia e uma tremenda violentação.
Imaginei-me em situação idêntica, dissecada por uma espécie mais inteligente, atenta às minhas entranhas e ignorante da minha essência, revoltada “Não será através dos meus intestinos que me chegam à alma!”.


Dizia o Principezinho que o essencial é invisível aos olhos.
O lado mágico das coisas, a força e a inteligência que estão por detrás da Manifestação, essa não podemos dominar, porque nem sequer a vemos. Talvez nunca a vejamos, focalizados que estamos no esquartejar do mundo para fazê-lo caber na nossa compreensão.

Incapazes de voarmos para abraçar o absoluto, reduzimos o mundo ao nosso tamanho e chamamos a isso evolução.

13/12/2009

Earth Water

Arrancou esta semana em Portugal um projecto pioneiro de solidariedade.

A água embalada Earth Water é o único produto no mundo com o selo do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), revertendo os seus lucros a favor do programa de ajuda de água daquela instituição.

A nível nacional, a Earth Water é um projecto que conta com a colaboração da Tetra Pak, do Continente, da Central Cervejas e Bebidas, da MSTF Partners, do Grupo GCI e da Fundação Luís Figo.

Com o preço de venda ao público (PVP) de 59 cêntimos, a embalagem de Earth Water diz no rótulo que «oferece 100% dos seus lucros mundiais ao programa de ajuda de água da ACNUR», apresentando, mais abaixo, o slogan «A água que vale água».

Actualmente morrem diariamente 6 mil pessoas no mundo por falta de água potável e destas, 80% são crianças. A cada 15 segundos morre uma criança devido a uma doença relacionada com a água. Com 4 cêntimos, o ACNUR consegue fornecer água a um refugiado por um dia.

Com a criação da Earth Water pretende fazer-se a diferença e melhorar estas estatísticas assustadoras. Ao desenvolver o conceito "You Never Drink Alone" pretende-se criar solução para a falta de água mundial.

http://earth-water.org/