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21/12/2009

A pequenez das coisas

Era um suplício quando, nas aulas de Ciências Naturais, dissecávamos pombos e rãs. Isso fazia sentir-me tão triste. Sentia-me como uma profanadora de templos ao abrir as entranhas do animal, revolvendo ao pormenor o mecanismo que tinha feito aquele ser respirar e existir.
Transformá-lo num instrumento e objecto de experiência laboratorial, para facilitar a compreensão e o domínio do nosso pequeno mundo, parecia-me uma heresia e uma tremenda violentação.
Imaginei-me em situação idêntica, dissecada por uma espécie mais inteligente, atenta às minhas entranhas e ignorante da minha essência, revoltada “Não será através dos meus intestinos que me chegam à alma!”.


Dizia o Principezinho que o essencial é invisível aos olhos.
O lado mágico das coisas, a força e a inteligência que estão por detrás da Manifestação, essa não podemos dominar, porque nem sequer a vemos. Talvez nunca a vejamos, focalizados que estamos no esquartejar do mundo para fazê-lo caber na nossa compreensão.

Incapazes de voarmos para abraçar o absoluto, reduzimos o mundo ao nosso tamanho e chamamos a isso evolução.

1 comentário:

jraulcaires disse...

Eu, ao contrário, adorava dissecar rãs.

Não tinha consciencia nenhuma de o meu acto ser uma profanação.

O que atesta muito pouco em relação às minhas potenciais virtudes como cientista.

è que os cientistas dedicam-se para seu exclusivo gozo pessoal a arrumar de vez com todos os redutos do que pertence ao domínio da crença em prol da construção de algo que se afigura como a construção de uma nova crença a ser demolida e, assim sucessivamente...

É a vida....