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17/02/2009

Meu limão, meu limoeiro...

meu pé de jacarandá,
uma vez tindôlêlê,
outra vez tindôlálá...

Em dias como hoje, quando abro a janela que dá para o quintal chega-me amornado pelo sol o aroma do limoeiro, perfumado e doce... Doce, como não é o seu fruto.
Inspiro-o longamente, sinto-o derramar-se em mim, envolvendo cada célula e, num repente, abrindo portas da memória.
A memória é celular, ensinaram-me.

E lá íamos nós, miúdos, com mil canções debaixo da língua, que a nossa mãe nos ensinava. Vínhamos a cantar desde Lisboa. Não importava se a viagem era curta ou longa, tínhamos esta fórmula mágica: cantávamos sempre porque assim não enjoávamos e o tempo passava mais depressa.

Era ali, naquela curva apertada do Arraçário, onde o carro quase parava para poder contorná-la, que os limoeiros nos esperaram sempre, leais e plácidos, ao longos dos anos.
Vínhamos desde lá de cima com aquela excitação infantil, alegre, ansiosa, e gritávamos “olh’ós limoeiros!”. Abríamos as janelas na descida, inalávamos aquele ar puro, abríamos bem as goelas e lançávamos a nossa cançoneta a plenos pulmões,

Meu limão, meu limoeiro,
meu pé de jacarandá,
uma vez
tindôlêlê,
outra vez tindôlálá...

O nosso pai abrandava a marcha e curvava lentamente, bem mais do que era necessário, para nos prolongar o tempo dos intermináveis encores. E depois ríamos, ríamos muito, todos.
Nunca soube exactamente o que era o tindôlêlê e o tindôlálá, m
as sei que nesses momentos éramos felizes.

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