15/06/2011
12/06/2011
"A Síndrome de Peter Pan"
Por Dan Kiley (psicoterapeuta)
“[A SPP] não ameaça a vida – por isso não é uma doença – mas põe em perigo a saúde mental de uma pessoa e, por isso, é mais do que uma inconveniência. (…) É um fenómeno psicológico singular (…) que provoca uma série de problemas. (…) Nos últimos vinte ou vinte e cinco anos, as pressões da vida moderna exacerbaram os factores causativos, resultando num aumento dramático da frequência do problema. E há todas as razões para esperar que piore nos anos futuros.
Quem não se lembra de Peter Pan, aquele rapaz que nunca quis crescer e que por isso optou por viver na “Terra do Nunca”? Esta terra parece ser fantástica! Nela se pode viver eternamente como criança, negando os problemas e fugindo aos confrontos, sem nenhuma responsabilidades de maior que não seja a satisfação dos próprios desejos numa vida sem regras.
Uma mulher que ame um homem com esta síndrome normalmente desilude-se face à sua imaturidade, instabilidade e desamor. Ele pode despedir-se de manhã com um beijo extremamente amoroso e à tarde magoá-la com atitudes e palavras duras. Ele “espera que a amante, mulher legítima, “mãe”, suporte as suas imaturidades e indelicadezas porque considera ser essa a sua missão”. Na verdade, ele “compara o amor por uma companheira com o amor de mãe. O amor adulto é distorcido a ponto de uma mulher legítima nunca dever esperar mais do que aquilo que ele escolher dar, na altura em que ele decidir dar. Ele não compreende que o amor adulto é condicional: envolve dar e receber. Mais, é ele quem recebe e a mulher quem dá. Se uma mulher desafiar esta desigualdade” terá problemas.
“Este livro centra-se nos homens que nunca cresceram”
Provavelmente qualquer um de nós já se defrontou alguma vez com um caso limite de infantilidade masculina, sem lhe prestar a devida reflexão. É minha opinião que actualmente as crianças e os jovens são mal orientados para enfrentar as dificuldades e responsabilidades da vida. O excesso de protecção, o facilitismo, a “falta de tempo” para educar, e um liberalismo excessivo, são ingredientes venenosos ao processo de crescimento regular no que concerne a maturidade emocional. A tendência, como nos diz o autor, é para que esta síndrome seja cada vez mais frequente no futuro. Por isso e porque imagino que seja um tema desconhecido à maioria das pessoas, considerei importante referir aqui este livro, citar algumas passagens e partilhar considerações que fui retirando no decurso da sua leitura que, desde já, aconselho vivamente a mães em particular e às mulheres em geral, por serem habitualmente mais interventivas e proactivas nos processos educacionais.
A raiz desta síndrome sedia-se no tipo de relacionamento conjugal e nas dinâmicas que daí resultam e se reflectem nas relações individuais da mãe e do pai com o filho. É uma síndrome que atinge apenas os rapazes, com uma maior taxa de incidência no primogénito.
Provavelmente qualquer um de nós já se defrontou alguma vez com um caso limite de infantilidade masculina, sem lhe prestar a devida reflexão. É minha opinião que actualmente as crianças e os jovens são mal orientados para enfrentar as dificuldades e responsabilidades da vida. O excesso de protecção, o facilitismo, a “falta de tempo” para educar, e um liberalismo excessivo, são ingredientes venenosos ao processo de crescimento regular no que concerne a maturidade emocional. A tendência, como nos diz o autor, é para que esta síndrome seja cada vez mais frequente no futuro. Por isso e porque imagino que seja um tema desconhecido à maioria das pessoas, considerei importante referir aqui este livro, citar algumas passagens e partilhar considerações que fui retirando no decurso da sua leitura que, desde já, aconselho vivamente a mães em particular e às mulheres em geral, por serem habitualmente mais interventivas e proactivas nos processos educacionais.
A raiz desta síndrome sedia-se no tipo de relacionamento conjugal e nas dinâmicas que daí resultam e se reflectem nas relações individuais da mãe e do pai com o filho. É uma síndrome que atinge apenas os rapazes, com uma maior taxa de incidência no primogénito.
“[A SPP] não ameaça a vida – por isso não é uma doença – mas põe em perigo a saúde mental de uma pessoa e, por isso, é mais do que uma inconveniência. (…) É um fenómeno psicológico singular (…) que provoca uma série de problemas. (…) Nos últimos vinte ou vinte e cinco anos, as pressões da vida moderna exacerbaram os factores causativos, resultando num aumento dramático da frequência do problema. E há todas as razões para esperar que piore nos anos futuros.
Durante os meus anos de aconselhamento (…) revelou-se-me lentamente que um número alarmante de rapazes não atingiriam a maioridade. (…) Durante os últimos anos da adolescência e os vinte e poucos anos, estes homens entregam-se a um estilo de vida impetuoso. O narcisismo fecha-os dentro deles mesmos, enquanto um ego irrealista os convence de que podem e devem fazer tudo quanto as suas fantasias sugerem. Mais tarde, após anos de mau ajustamento à realidade (…) a busca da aceitação das outras pessoas parece ser a única maneira de encontrar a aceitação de si mesmo. Os acessos de cólera são conotados com uma atitude masculina; negligenciam o amor, nunca aprendendo como retribuí-lo; fingem ser crescidos mas comportam-se como crianças mimadas.
Mas nunca é tarde para um homem crescer através dos seus próprios esforços, (…) por isso este livro é também um livro destinado à própria vítima [da SPP].”
Mas nunca é tarde para um homem crescer através dos seus próprios esforços, (…) por isso este livro é também um livro destinado à própria vítima [da SPP].”
Quem não se lembra de Peter Pan, aquele rapaz que nunca quis crescer e que por isso optou por viver na “Terra do Nunca”? Esta terra parece ser fantástica! Nela se pode viver eternamente como criança, negando os problemas e fugindo aos confrontos, sem nenhuma responsabilidades de maior que não seja a satisfação dos próprios desejos numa vida sem regras.
Mas isto não existe senão na fantasia, e o que acontece na vida real é que estes rapazes-homens vão pela vida fora arrastando um corpo crescido preso ao passado juvenil. Não amadurecem emocionalmente, não desenvolvem relações saudáveis de partilha e amizade autêntica, e vão reclamando sempre a satisfação dos seus desejos e vontades culpando tudo e todos pelo facto de a realidade se mostrar diferente da fantasia que criaram. Crescer implica ser responsável e aceitar as “dores do crescimento”, e eles recusam isso.
Agarram-se ao passado numa recusa desesperada de enfrentar a maturidade e ficam fechados nele. Cultivam recordações, pessoas e objectos, num saudosismo quase patológico. Os seus sentimentos parecem congelar e tornam-se vítimas de uma paralisia emocional que os distancia do sofrimento alheio. Chegam a ser de uma frieza cruel. No presente adoptam uma atitude de descaso na intimidade, não se comprometem, não assumem responsabilidades, adiam constantemente a resolução dos seus problemas (muitas vezes recusam-se a aceitar que os problemas existem), dificultando a comunicação, o seu progresso emocional e gerando desequilíbrio e danos nas suas relações próximas. “Preferem a paz e a tranquilidade da indiferença pura”, diz Dan Kiley.
A sua dificuldade em lidar com as perdas é imensa. Não compreendem nem aceitam ser rejeitados, esquecidos ou negligenciados. Vivem condicionados à aceitação dos outros, tornam-se egocêntricos, narcisistas e até chauvinistas de uma maneira muito subtil.
A sua dificuldade em lidar com as perdas é imensa. Não compreendem nem aceitam ser rejeitados, esquecidos ou negligenciados. Vivem condicionados à aceitação dos outros, tornam-se egocêntricos, narcisistas e até chauvinistas de uma maneira muito subtil.
Em alguns casos a resistência à mudança decorre da preguiça, do adiamento daquilo que é sério e necessário, e faz com que estes rapazes-homens recorram a ocupações escapistas e a fugas através de vícios diversos, chegando à droga e ao álcool.
Quem quer que se atravesse à sua frente e pretenda trazê-los à realidade tem a mesma dificuldade que um soldado que pretenda atravessar um campo minado.
Quem quer que se atravesse à sua frente e pretenda trazê-los à realidade tem a mesma dificuldade que um soldado que pretenda atravessar um campo minado.
Escondem-se de si próprios através do “hábito de longa duração de uma alegria falsa difícil de eliminar” e “até as pessoas mais íntimas não suspeitam de que há realmente algo de errado – excepto a mulher, ou amante. (…) Ela sabe que há algo de errado. Sabe isso quase desde que o conheceu. E sabe que é mais do que apenas um problema dela. É um problema de relacionamento”.
Uma mulher que ame um homem com esta síndrome normalmente desilude-se face à sua imaturidade, instabilidade e desamor. Ele pode despedir-se de manhã com um beijo extremamente amoroso e à tarde magoá-la com atitudes e palavras duras. Ele “espera que a amante, mulher legítima, “mãe”, suporte as suas imaturidades e indelicadezas porque considera ser essa a sua missão”. Na verdade, ele “compara o amor por uma companheira com o amor de mãe. O amor adulto é distorcido a ponto de uma mulher legítima nunca dever esperar mais do que aquilo que ele escolher dar, na altura em que ele decidir dar. Ele não compreende que o amor adulto é condicional: envolve dar e receber. Mais, é ele quem recebe e a mulher quem dá. Se uma mulher desafiar esta desigualdade” terá problemas.
Na verdade este tipo de homem vê na companheira a projecção de uma mãe ideal e não a Mulher. Por isso preocupa-se inconscientemente em conquistar a atenção de outras mulheres, ao ponto de não compreender que isso incomode a companheira, pois no seu universo emocional remeteu-a para o lugar de “mãe” compreensiva, ou de irmã mais velha. “Esta é uma atitude narcisista de quem está desesperado pelo reconhecimento exterior e distorce a realidade”.
No entanto, isto tem uma origem. Em algum momento do seu percurso estes rapazes-homens sofreram muito sozinhos, sem aprenderem a aceitar as suas fraquezas e fracassos, querendo ser perfeitos e agradar para serem aceites exteriormente, para “pertencerem”; e isto levou-os a criar defesas para se protegerem do contacto com a sua própria dor. O que não conseguem perceber sozinhos é que o efeito perverso dessa paralisia emocional é o afastamento daquilo que é de facto a única coisa que os pode ajudar: o amor – amar a si mesmo, ser amado, relações autênticas e responsáveis.
Há uma maneira de os podermos ajudar: amando a criança “imperfeita” que eles julgam ter sido e ajudando o adulto a entrar em contacto com as dores alojadas no seu coração. Mas esta missão pode revelar-se destrutiva numa relação a dois, pois o espaço do relacionamento é um terreno minado onde este tipo de homem encara cada confronto, não como um desafio que o ajuda no processo de crescimento, mas como uma mina que pode estilhaçar a auto-imagem com que se identifica. Nestes casos converte a mulher na sua maior inimiga e o espaço da relação deteriora-se: inconscientemente, fará tudo para destruí-la.
Quando eles próprios tomam consciência do seu processo, predispondo-se a assumir um compromisso responsável consigo, a terapia será a melhor via para desenvolver um processo de auto-conhecimento e aceitação de si mesmo.
Há uma maneira de os podermos ajudar: amando a criança “imperfeita” que eles julgam ter sido e ajudando o adulto a entrar em contacto com as dores alojadas no seu coração. Mas esta missão pode revelar-se destrutiva numa relação a dois, pois o espaço do relacionamento é um terreno minado onde este tipo de homem encara cada confronto, não como um desafio que o ajuda no processo de crescimento, mas como uma mina que pode estilhaçar a auto-imagem com que se identifica. Nestes casos converte a mulher na sua maior inimiga e o espaço da relação deteriora-se: inconscientemente, fará tudo para destruí-la.
Quando eles próprios tomam consciência do seu processo, predispondo-se a assumir um compromisso responsável consigo, a terapia será a melhor via para desenvolver um processo de auto-conhecimento e aceitação de si mesmo.
Etiqueta:
Consciência,
Crescimento,
Relacionamentos
Subscrever:
Mensagens (Atom)