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15/06/2011

World shift 2012

“Estamos num ponto de emergência global.
É a primeira vez que uma espécie sabe que pode ser levada à extinção pelas suas próprias acções.
É a maior chamada de atenção que a humanidade já teve.”
Barbara Marx Hubbard

Um vídeo que nos remete para a necessidade de tomada de consciência da situação actual e para a urgência na adopção de atitudes transformadoras.

12/06/2011

"A Síndrome de Peter Pan"

Por Dan Kiley (psicoterapeuta)
“Este livro centra-se nos homens que nunca cresceram”

Provavelmente qualquer um de nós já se defrontou alguma vez com um caso limite de infantilidade masculina, sem lhe prestar a devida reflexão. É minha opinião que actualmente as crianças e os jovens são mal orientados para enfrentar as dificuldades e responsabilidades da vida. O excesso de protecção, o facilitismo, a “falta de tempo” para educar, e um liberalismo excessivo, são ingredientes venenosos ao processo de crescimento regular no que concerne a maturidade emocional. A tendência, como nos diz o autor, é para que esta síndrome seja cada vez mais frequente no futuro. Por isso e porque imagino que seja um tema desconhecido à maioria das pessoas, considerei importante referir aqui este livro, citar algumas passagens e partilhar considerações que fui retirando no decurso da sua leitura que, desde já, aconselho vivamente a mães em particular e às mulheres em geral, por serem habitualmente mais interventivas e proactivas nos processos educacionais.



A raiz desta síndrome sedia-se no tipo de relacionamento conjugal e nas dinâmicas que daí resultam e se reflectem nas relações individuais da mãe e do pai com o filho. É uma síndrome que atinge apenas os rapazes, com uma maior taxa de incidência no primogénito.

“[A SPP] não ameaça a vida – por isso não é uma doença – mas põe em perigo a saúde mental de uma pessoa e, por isso, é mais do que uma inconveniência. (…) É um fenómeno psicológico singular (…) que provoca uma série de problemas. (…) Nos últimos vinte ou vinte e cinco anos, as pressões da vida moderna exacerbaram os factores causativos, resultando num aumento dramático da frequência do problema. E há todas as razões para esperar que piore nos anos futuros.
Durante os meus anos de aconselhamento (…) revelou-se-me lentamente que um número alarmante de rapazes não atingiriam a maioridade. (…) Durante os últimos anos da adolescência e os vinte e poucos anos, estes homens entregam-se a um estilo de vida impetuoso. O narcisismo fecha-os dentro deles mesmos, enquanto um ego irrealista os convence de que podem e devem fazer tudo quanto as suas fantasias sugerem. Mais tarde, após anos de mau ajustamento à realidade (…) a busca da aceitação das outras pessoas parece ser a única maneira de encontrar a aceitação de si mesmo. Os acessos de cólera são conotados com uma atitude masculina; negligenciam o amor, nunca aprendendo como retribuí-lo; fingem ser crescidos mas comportam-se como crianças mimadas.
Mas nunca é tarde para um homem crescer através dos seus próprios esforços, (…) por isso este livro é também um livro destinado à própria vítima [da SPP].”

Quem não se lembra de Peter Pan, aquele rapaz que nunca quis crescer e que por isso optou por viver na “Terra do Nunca”? Esta terra parece ser fantástica! Nela se pode viver eternamente como criança,  negando os problemas e fugindo aos confrontos, sem nenhuma responsabilidades de maior que não seja a satisfação dos próprios desejos numa vida sem regras.
Mas isto não existe senão na fantasia, e o que acontece na vida real é que estes rapazes-homens vão pela vida fora arrastando um corpo crescido preso ao passado juvenil. Não amadurecem emocionalmente, não desenvolvem relações saudáveis de partilha e amizade autêntica,  e vão reclamando sempre a satisfação dos seus desejos e vontades culpando tudo e todos pelo facto de a realidade se mostrar diferente da fantasia que criaram. Crescer implica ser responsável e aceitar as “dores do crescimento”, e eles recusam isso.
Agarram-se ao passado numa recusa desesperada de enfrentar a maturidade e ficam fechados nele. Cultivam recordações, pessoas e objectos, num saudosismo quase patológico. Os seus sentimentos parecem congelar e tornam-se vítimas de uma paralisia emocional que os distancia do sofrimento alheio. Chegam a ser de uma frieza cruel. No presente adoptam uma atitude de descaso na intimidade, não se comprometem, não assumem responsabilidades, adiam constantemente a resolução dos seus problemas (muitas vezes recusam-se a aceitar que os problemas existem), dificultando a comunicação, o seu progresso emocional e gerando desequilíbrio e danos nas suas relações próximas. “Preferem a paz e a tranquilidade da indiferença pura”, diz Dan Kiley.

A sua dificuldade em lidar com as perdas é imensa. Não compreendem nem aceitam ser rejeitados, esquecidos ou negligenciados. Vivem condicionados à aceitação dos outros, tornam-se egocêntricos, narcisistas e até chauvinistas de uma maneira muito subtil.
Em alguns casos a resistência à mudança decorre da preguiça, do adiamento daquilo que é sério e necessário, e faz com que estes rapazes-homens recorram a ocupações escapistas e a fugas através de vícios diversos, chegando à droga e ao álcool.
Quem quer que se atravesse à sua frente e pretenda trazê-los à realidade tem a mesma dificuldade que um soldado que pretenda atravessar um campo minado.
 
Escondem-se de si próprios através do “hábito de longa duração de uma alegria falsa difícil de eliminar” e “até as pessoas mais íntimas não suspeitam de que há realmente algo de errado – excepto a mulher, ou amante. (…) Ela sabe que há algo de errado. Sabe isso quase desde que o conheceu. E sabe que é mais do que apenas um problema dela. É um problema de relacionamento”.


Uma mulher que ame um homem com esta síndrome normalmente desilude-se face à sua imaturidade, instabilidade e desamor. Ele pode despedir-se de manhã com um beijo extremamente amoroso e à tarde magoá-la com atitudes e palavras duras. Ele “espera que a amante, mulher legítima, “mãe”, suporte as suas imaturidades e indelicadezas porque considera ser essa a sua missão”. Na verdade, ele “compara o amor por uma companheira com o amor de mãe. O amor adulto é distorcido a ponto de uma mulher legítima nunca dever esperar mais do que aquilo que ele escolher dar, na altura em que ele decidir dar. Ele não compreende que o amor adulto é condicional: envolve dar e receber. Mais, é ele quem recebe e a mulher quem dá. Se uma mulher desafiar esta desigualdade” terá problemas.
Na verdade este tipo de homem vê na companheira a projecção de uma mãe ideal e não a Mulher. Por isso preocupa-se inconscientemente em conquistar a atenção de outras mulheres, ao ponto de não compreender que isso incomode a companheira, pois no seu universo emocional remeteu-a para o lugar de “mãe” compreensiva, ou de irmã mais velha. “Esta é uma atitude narcisista de quem está desesperado pelo reconhecimento exterior e distorce a realidade”.
No entanto, isto tem uma origem. Em algum momento do seu percurso estes rapazes-homens sofreram muito sozinhos, sem aprenderem a aceitar as suas fraquezas e fracassos, querendo ser perfeitos e agradar para serem aceites exteriormente, para “pertencerem”; e isto levou-os a criar defesas para se protegerem do contacto com a sua própria dor. O que não conseguem perceber sozinhos é que o efeito perverso dessa paralisia emocional é o afastamento daquilo que é de facto a única coisa que os pode ajudar: o amor – amar a si mesmo, ser amado, relações autênticas e responsáveis.

Há uma maneira de os podermos ajudar: amando a criança “imperfeita” que eles julgam ter sido e ajudando o adulto a entrar em contacto com as dores alojadas no seu coração. Mas esta missão pode revelar-se destrutiva numa relação a dois, pois o espaço do relacionamento é um terreno minado onde este tipo de homem encara cada confronto, não como um desafio que o ajuda no processo de crescimento, mas como uma mina que pode estilhaçar a auto-imagem com que se identifica. Nestes casos converte a mulher na sua maior inimiga e o espaço da relação deteriora-se: inconscientemente, fará tudo para destruí-la.
Quando eles próprios tomam consciência do seu processo, predispondo-se a assumir um compromisso responsável consigo, a terapia será a melhor via para desenvolver um processo de auto-conhecimento e aceitação de si mesmo.